Início

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carnaval, um contexto histórico: da tradição popular ao popularesco - por BOB MONTELEONE


Cantor Bahiano
A festa mais popular de todos os tempos não é algo tão recente assim como muitos imaginam, seus primórdios estão atrelados ao surgimento do berço de da civilização ocidental na antiga Grécia nos meados de 600 a 520 a.C. com o propósito de cultuar os deuses em forma de agradecimento pela fertilidade do solo e a abundância nas colheitas. Algum tempo depois esta manifestação foi se afastando dos seus princípios religiosos e tornando-se pagã com grandes banquetes, regrada a vinho e orgias.
Segundo Hiram Araújo (2.000), a palavra carnaval, sem uma unanimidade entre os pesquisadores também apresenta diversas versões, derivando de carne vale (adeus carne), ou carne levamen (supressão da carne). Essas variações etimológicas remetem-nos ao início do período da Quaresma que em sua origem, representava não só um período de reflexão espiritual como também da abstenção de certos alimentos, dentre eles, a carne. Outro estudo aponta para a derivação de currus navalis, ligada aos festejos que marcavam o início da primavera com o cortejos realizado no mar por barcos alegóricos, tanto na Grécia como em Roma.

A pintura Cena de Carnaval, de Jean Batiste Debret
Assim como na antiguidade, em 590 d.C. o carnaval parecia tomar outros rumos, então a Igreja Católica no ímpeto de não perder seus fiéis partiu para a política do “se não podemos vencê-los, juntemo-nos a eles”, fazendo “vistas grossas” a uma comemoração pagã, incluindo-a em seu calendário. O Concílio de Trento, em 1545, decide que o carnaval volte a ser uma festa popular. Em aproximadamente 1723, o carnaval chegou ao Brasil sob influência européia. Ocorria através de desfiles de pessoas fantasiadas e mascaradas na forma de cortejo, uma forma ativa e co-participativa de diversão, como ainda acontece em duas cidades do interior paulista, São Luiz do Paraitinga com suas marchinhas e em Atibaia com o carnaval dos Bonecões (anteriores aos de Olinda); manifestações que vão de encontro à passividade televisiva de hoje em dia, frente à massificação dessa festa popular. Somente no século XIX que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas de forma semelhante à de hoje.
Por influência dos portugueses o carnaval era chamado de Entrudo que trouxe uma gama de brincadeiras e festejos carnavalescos, como os limões de cheiro que eram batizados com substâncias não tão convencionais, como urina e fezes, e, depois atiradas pelos foliões nos transeuntes; diga-se de passagem, que eram de muito mau gosto e esses elementos seriam substituídos por confetes e serpentinas, e, recentemente os “famosos” sprays de espuma que irritam tanto quanto os limões de cheiro de antigamente. Por conta dessas “atrocidades” surgiram às primeiras tentativas de civilizar a festa carnavalesca brasileira, através da importação dos bailes e dos passeios mascarados parisienses, colocando o Entrudo Popular sob forte controle policial.
 Por volta de 1846, houve um acontecimento que revolucionou o carnaval carioca: o aparecimento do Zé Pereira (tocador de bumbo). O Zé Pereira deixou como sucessores a cuíca, o tamborim, o reco-reco, o pandeiro e a frigideira, instrumentos que acompanhavam os blocos de “sujos” e que hoje animam as nossas escolas de samba. Já em 1873, aconteceu o desfile do primeiro rancho, o Dois de Ouros, liderado pelo baiano Hilário Jovino Ferreira; percebe-se aqui a influência da tradição festeira do povo baiano. (o grifo é nosso) Em 1899, Chiquinha Gonzaga compôs a primeira música especificamente para o Carnaval, "Ô Abre Alas!". As fantasias mais tradicionais e usadas até hoje são as de Pierrot, Arlequim e Colombina, originárias da commedia dell'arte. A popularização do carnaval brasileiro acontece com a composição das marchinhas carnavalescas, destacando-se nesse cenário Chiquinha Gonzaga com a música, o Abre-Alas.
Em 1902, os cordões carnavalescos já chegam a mais de 200. Encontramos também no início do século XX: os mascarados, o lança-perfume, as batalhas de confete e os bailes infantis que dão início às famosas matinês. A democratização do carnaval se dá no Rio de Janeiro com o surgimento do samba, mesmo a contragosto da elite que reagiu à "manifestação africana", mas que aos poucos se deixou levar pelo passo do samba. O primeiro samba gravado, tido e reconhecido pela maioria dos pesquisadores de música popular é o “Pelo Telefone”, de Ernesto dos Santos (Donga) e Mauro de Almeida. A primeira gravação do samba inaugural foi feita para a Casa Edison do Rio de Janeiro e obteve notoriedade pública no carnaval de 1917, acompanhada pela Banda da Casa Edison e pelo cantor Bahiano; olha os baianos mais uma vez aqui. (o grifo é nosso) Foi criada em 1928, a primeira escola de samba, Deixa Falar, e, junto com ela a Ala das Baianas com a função de ressaltar as origens afro-baianas dos samba, o elo de ligação entre passado, contribuindo para o reconhecimento das raízes culturais do carnaval de “pompa e circunstâncias” da nossa contemporaneidade. Logo depois, surgiu a escola de samba Mangueira. Os desfiles que começaram em 1929 eram realizados na Praça Onze. Foi o jornalista Mário Filho que organizou a primeira disputa entre escolas de samba, em 1932. Em finais do século XIX, toda uma série e grupos carnavalescos ocupam as ruas do Rio de Janeiro, servindo de modelo para as diferentes folias. Nessa época, esses grupos eram chamados indiscriminadamente de cordões, ranchos ou blocos. Com o passar do tempo, assim como a igreja no passado, o Estado passou a organizar o carnaval, “investindo” nas escolas de samba em detrimento de uma licença como forma de controlar e desvirtuar o real sentido essa manifestação popular que retrata na maioria das vezes temas e homenagens relevantes, como no caso da Bahia esse ano de 2012, que foi ressaltada em três escolas de samba, conforme sambas-enredo listados no final do artigo.
Na cidade de Salvador, existem os trios elétricos, embalados por músicas dançantes de cantores e grupos típicos da região. Na cidade destacam-se também os blocos negros como o Olodum e o Ileyaê, além dos blocos de rua e do Afoxé Filhos de Gandhi.
Concluo dizendo que todo o processo de preparação do carnaval dentro das escolas é muito rico, o envolvimento, a cooperação, a escolha do tema, samba enredo, confecção de fantasias, carros alegóricos, ações em prol da comunidade que depois tendem a se perder momentaneamente em meio a sociedade do espetáculo que aprecia somente o “produto final”, que pena.

SAMBAS-ERENDO 2012 SOBRE A BAHIA

ÁGUIA DE OURO

Enredo: Tropicália da Paz e Amor,

O Movimento que não Acabou! 
Compositores: Jairo, Fernando Sales,

Tadeu e Rodrigues 

Águia de Ouro eterna paixão
O tesouro que guardo no meu coração
No swing da Pompéia eu vou
Na Tropicália da paz e do amor


Brasil, oh pátria amada
Terra abençoada de encantos mil
Sua natureza é divinal
Paraíso de beleza Tropical
A Beira Mar a Bossa Nova Nasceu
Guitarras a tocar, como inspiração
Pra jovem guarda e o rock em apogeu (apogeu)
Com Caetano e Gil, a Tropicália Surgiu 
Em liberdade de expressão 
"Caminhando contra o Vento"
Ao novo tempo sem repressão

No ar, ecoam notas musicais
Pra eternizar, grandes festivais
E os talentos, o povo consagrou
E a  musica embalou


Sucesso no cinema 
Terra em transe na tela
A arte a moda em poema
No teatro, "o rei da vela" 
Bate tambor no iê iê iê pro povo balançar
O caldeirão a ferver de cultura popular
A nave louca partiu a dor foi demais
Na luta os seus ideais (Ideais)
Mas, Chacrinha tropicalista imortal
Recebe os novos baianos no Planeta Carnaval


http://www.sambariocarnaval.com/frames/index.php?sambando=aguia2012

IMPERATRIZ

Enredo: Jorge, Amado Jorge
Autores: Jeferson Lima, Ribamar,

Alexandre D'Mendes, Cristovão Luiz e

Tuninho Professor

Ave, Bahia sagrada!
Abençoada por Oxalá!
O mar, beijando a esperança,
Descansa nos braços de Iemanjá
Menino amado…
Destino bordado de inspiração.
Iluminado…
Vestiu palavras de fascinação

Olha o acarajé! Quem vai querer?
Temperado no axé e dendê (bis)
Quem tem fé vai a pé… Vai, sim!
Abrir caminhos na Lavagem do Bonfim

(No Rio...) O vento soprou
As letras em liberdade
Joga a rede, pescador!
O povo tem sede de felicidade.
A brisa a embalar
Histórias que falam de amor
Memórias sob o lume do luar
O doce perfume da flor
Ê Bahia! Ê Bahia!
Dos santos, encantos, magia.
Kaô Kabesilê! Ora Iê Iê Oxum!
Tem festa no Pelô
Na ladeira, capoeira mata um

Sou Imperatriz! Sou emoção!
Meu coração quer festejar! (bis)
Ao mestre escritor, um canto de amor
Jorge Amado, Saravá!
http://www.sambariocarnaval.com/frames/index.php?sambando=imperatriz2012


IMPERATRIZ

Enredo: Jorge, Amado Jorge
Autores: Jeferson Lima, Ribamar,

Alexandre D'Mendes, Cristovão Luiz e

Tuninho Professor

Ave, Bahia sagrada!
Abençoada por Oxalá!
O mar, beijando a esperança,
Descansa nos braços de Iemanjá
Menino amado…
Destino bordado de inspiração.
Iluminado…
Vestiu palavras de fascinação

Olha o acarajé! Quem vai querer?
Temperado no axé e dendê (bis)
Quem tem fé vai a pé… Vai, sim!
Abrir caminhos na Lavagem do Bonfim

(No Rio...) O vento soprou
As letras em liberdade
Joga a rede, pescador!
O povo tem sede de felicidade.
A brisa a embalar
Histórias que falam de amor
Memórias sob o lume do luar
O doce perfume da flor
Ê Bahia! Ê Bahia!
Dos santos, encantos, magia.
Kaô Kabesilê! Ora Iê Iê Oxum!
Tem festa no Pelô
Na ladeira, capoeira mata um

Sou Imperatriz! Sou emoção!
Meu coração quer festejar! (bis)
Ao mestre escritor, um canto de amor
Jorge Amado, Saravá!




FONTES

TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular.Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 1974.

CABRAL, Sérgio. , As Escolas de Samba. Editora Fontana Ltda, Rio de Janeiro, 1974. 

QUEIRÓS, Maria Isaura Pereira. Carnaval Brasileiro - O vivido e o mito. Brasiliense, 1992. 

SEVERIANO, Jairo. Yes, nós temos Braguinha. Funarte/Martins Fontes, 1987.

ARAÚJO, Hiram e outros. Memória do Carnaval. Riotur, 1993.

ARAÚJO, Hiram. Carnaval - Seis mil anos de história.Ed. Gryphus, 2000.






  
Bob Monteleone, é licenciado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicação e Artes da USP, pós graduado em Docência no Ensino Superior de Turismo, Hotelaria e Lazer-SENAC, professor, diretor teatral e educador ambiental.
Todas as quintas ele escreve sobre Teatro Educação aqui no EUVEJOARTE.blogspot.com