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sábado, 31 de março de 2012

HISTÓRIA DO TEATRO III – teatro medieval: proibição-ressurgimento-adaptação - por BOB MONTELEONE

A produção teatral quase não existiu entre os séculos V ao XI, por falta da comprovação documental desta época. Vagamente se tem relatos de atividades teatrais por conta das condenações de artistas que consta nos documentos escritos pelos concílios da igreja, que abominava tal prática nesse período, sendo perseguida e repremida até a Alta Idade Média, por tratar de assuntos comumente ligados a libidinagem e a alegria, atos abominados pelos religiosos. Além disso, os artistas populares (saltimbancos) oriundos de diversas regiões carregavam consigo sua cultura religiosa e seus cultos politeístas, altamente condenados pela igreja que precisava impor sua crença monoteísta de um Deus onipresente-onipotente-onipresente, eliminando qualquer resquício da antiga fé.

Mesmo sob a severa perseguição o teatro continuou a ser praticado nas ruas ou mesmo em alguns feudos, até que a igreja decide então, inseri-lo nas missas a partir do século XI.
A partir dai surge os gêneros teatrais arquetípicos:
· auto - teatro inserido nos cultos religiosos com o objetivos litúrgicos para propagação dos ensinamentos de Deus, bem como para o respeito e a manutenção da escala hierárquica do clérigo. Ariano Suassuna e Luís Alberto de Abreu, cujo segundo foi meu professor de dramaturgia na universidade; acompanhei paulatinamente seus trabalhos dramatúrgicos encenados por Ednaldo Freire na Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes nos teatros – Arena, Ruth Escobar e Paulo Eiró em São Paulo.
· farsa – contrapondo os autos esse gênero muito popular no decorrer de seu desenvolvimento histórico, mesclou-se com o auto mantendo um tom de religiosidade ao contrabalancear a comicidade libertina da farsa          
· bobos da corte - de forte raiz popular que data da Antiguidade clássica os senhores feudais eram entretidos pelos trovadores e menestréis comumente conhecidos como bobos da corte. 

Da Idade Média até a Alta Idade Média a sociedade medieval foi estamental (estruturada em estratos sociais), sem que houvesse qualquer possibilidade de ascensão social. Altamente rígida constituída para manter o poder de forma hierárquica e intransmutável. Observando a história, o teatro sempre teve uma proximidade ao sagrado e o profano, quase sendo um Arlequim - senhor de dois amos, equilibrado apenas por uma tênue linha que pende para o lado que melhor lhe convier. Devido às restrições dessa época o espaço físico teatral desenvolveu o conceito de palco simultâneo ou cenas paralelas pelo fato do teatro ter sido tirado de dentro da igreja, começaram no altar-mor e deslocaram-se até a praça principal, por conta dos constantes e desconfiados olhares que sempre questionavam a real função do teatro. Como arte altamente adaptável o teatro criou três grandes palcos que representavam o céu, a terra ou o paraíso e o inferno, montados nas praças, preferencialmente próximo as catedrais. Esse gênero utilizou-se da processionalidade, ampliando o espaço de encenação ao envolver todo o entorno, deslocando-se pelo espaço geográfico das cidades, vilas, vilarejos, etc. Sem sombra de dúvida, o teatro medieval contribuiu muito para o enriquecimento dos principais elementos das artes cênicas. A valorização dos detalhes deu uma importância maior: a iluminação, feita com velas e candelabros, passou a ser encarada como parte da concepção do cenário e o figurino ficou mais em evidência. Na plateia, foram erguidos camarotes, e camarins para os atores, com maquilagem, que substituiu as máscaras na personificação dos personagens. Mesmo com toda essa evolução, somente depois de um longo período, surgiu o teatro como o conhecemos hoje.
 
  
Bob Monteleone, é licenciado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicação e Artes da USP, pós graduado em Docência no Ensino Superior de Turismo, Hotelaria e Lazer-SENAC, professor, diretor teatral e educador ambiental.
Todas as quintas ele escreve sobre Teatro Educação aqui no EUVEJOARTE.blogspot.com


BIBLIOGRAFIA
BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro; tradução J. Guinsburg, Clóvis Garcia, et alii. 1ª Ed. São Paulo, Perspectiva, 2001.
GASSNER, John. Mestres do Teatro I; tradução e organização de Alberto Guzik e J. Guinsburg, 3ª Ed. São Paulo, Perspectiva, 1997.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro; tradução para a língua portuguesa sob a direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo, Perspectiva, 1999.
TOZZI, Devanil, et alii. Teatro e Dança:repertórios para a educação – linha do tempo, v.1. São Paulo, FDE, 2010.