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"1951 - Inauguração da TV Tupi no Rio de Janeiro." |
É
preciso apreender que nem sempre estar numa TV significa que uma determinada
pessoa é de fato um bom ator ou atriz. Existe uma diferença enorme para quem
vem do teatro e quem ingressa na TV sem passar por ele antes, e as duas formas
de expressões são tão distintas quanto água e óleo num mesmo copo, contudo
comungam de um mesmo objetivo, comunicar.
A TV
é algo mais visual e corrido, sobra pouco tempo para o
ator se aprofundar numa personagem por exemplo. O teatro já segue o caminho
oposto, ele é irradiado de calor humano, você tem a resposta do público ali, na
hora, é certo que é um publico bastante reduzido se comparado a TV, entretanto
a sensação de está ali no palco, divertindo, emocionando, passando informações
lúcidas, lúdicas, defendendo uma ideologia é algo que não tem preço, é um
verdadeiro deslumbre para o ator de teatro, além do processo de laboratório e
pesquisa ser mais intensificado em paralelo ao mundo atrás das câmeras.
Então
vamos aos contras do teatro em relação à TV; basicamente o surgimento da TV no
Brasil acabou com o intenso movimento de teatro que vinha se fortalecendo na
década de 50, as pessoas passaram a não sair mais de casa para assistir uma
peça, o sedentarismo passa a imperar e seguindo a enorme onda crescente,
arrebatadora de público, chamada televisão, tendo como emissora pioneira a
extinta TV Tupi, muitos atores consagrados de teatro migram para essa nova
forma de entretenimento como é o caso de Fernanda Montenegro, Paulo Autran,
Othon Bastos, Tarcísio Meira, Glória Menezes e etc. e isso justifica a boa fase
inicial que a TV viveu, trazendo muito do universo teatral para as câmeras e
com excelentes interpretações e roteiros baseados em peças de teatro. Porém
desde o instante em que a TV surge com seu poder de alienação em massa, ela
vira inimiga declarada do universo teatral. Engana-se quem pensa que os dois
falam a mesma língua. Muitos grupos de teatro tentam resistir sem sucesso ao
poder de influência que a TV exerce sob as pessoas e por isso muitos deles são
obliterados, erradicados neste embate.
Uma
vez que um ator tem um rótulo de uma emissora nas costas, ele passa a ser um
deus, mesmo que ele venha de programas como Malhação da rede globo - onde o
programa é claramente um ninho de atores iniciantes que estão sendo testados na
emissora – No entanto é o seu rótulo de ator de TV que vai levar o grande
público a ir ao teatro, para vê-lo pessoalmente, tirar fotos e postar em redes
sociais. As pessoas não vão ao teatro para assistir ao espetáculo ou ver o
trabalho de grupo e sim, o deus, luminoso, radiante em cena. Muitos atores que
iniciam no meio teatral sonham um dia ir para a TV, não sabem eles, que a
maioria daqueles que estão ali na tela são pessoas financeiramente estáveis,
pessoas vindas de famílias ricas e esse é o motivo deles estarem ali, naquele ambiente.
Os
atores que estão sempre em evidência, pulando de novela em novela - “os
consagrados” - são os que realmente enriquecem; os outros que fazem uma ponta
aqui ou acolá têm que se desdobrar com outros lances enquanto esperam serem
chamados para participar de alguma outra novela, ou seja, é como um
frigorífico, cheio de atores na geladeira, quando precisam, descongelam aquele
que melhor convir, enquanto os outros permanecem congelados e se eles não tiverem
estabilidade financeira, não conseguirão manter-se naquele meio por muito tempo
e terão que encontrar outra forma de viver, provavelmente terão que se adequar
ao sistema capitalista, servindo a sociedade de consumo, trabalhando em
indústrias, órgãos públicos e etc. É importante advertir que está nos holofotes
da TV ao mesmo tempo que é sinônimo de fama, também é sinônimo de investimentos,
aplicação de capitais em troca da cobertura midiática. O artista precisa pagar
um agente para descolar comerciais, entrevistas e outras coisas, alguns até
pagam paparazzis para tirar fotos e divulgarem a respeito de sua privacidade,
ou então pagam para espalharem boatos e polêmicas com o seu nome - puro jogo de
marketing - e, além disso, evidencia o forte narcisismo do qual eles sofrem,
todavia também existe outro lado, o lado dos artistas da classe C, eles
representam a minoria na TV, esses precisam trabalhar bastante para continuarem
neste círculo e merecem crédito, porque quando não conseguem uma ponta, trabalham
na técnica, nos bastidores; um trabalho intenso e sem descanso e ainda
enfrentam um preconceito forte da classe artística dominante no set ou estúdio.
Está ali, é uma vitória contra todas as coisas.
A
força que o nome de ator ganha quando ele ingressa na TV é monstruosa. O nome passa a ser comentado em tudo que é
rede social, uma celebridade instantânea é criada, porém a fama também traz
seus infortúnios, muitos grupos de teatro com posicionamento político contra a
TV, não aceitarão essa fama, por isso esse ator, uma vez que faz parte de um
grupo com esse posicionamento, deve sair dele para não prejudica-lo. Se não, o
público virá ao teatro não mais para assistir a peça. Ratificando que o ator,
independente do veículo a seguir, deve se preocupar sempre em ser profissional,
fazer o seu papel, interpretar sempre com emoção e veracidade, deve mostra-se
interessado em pesquisar e fazer laboratório do trabalho proposto. Como disse Jeam Pierre Kuhl, diretor e preparador de atores: “O teatro você escolhe fazer e a TV
escolhe você”. Teatro é uma coisa que está no
sangue como um vírus incurável, mesmo que o ator faça
TV, ele nunca vai conseguir largar o teatro, já que ali no palco ele tem a
liberdade de criação, de expressão, estabelece-se uma troca mútua de energia
com o grupo de atores em cena e o público, obtendo-se imediatamente a resposta
da plateia, os aplausos ou a vaia e cada apresentação é algo único e pertence
apenas aqueles que comungaram daquele momento. O saudoso Oduvaldo Viana Filho,
o Vianinha, grande diretor de teatro e TV bem disse e faço minhas as suas
palavras: "Cada vez que um pano-de-boca se abre no Brasil, cada vez que um refletor se
acende, soam trombetas no céu; trata-se de uma vitória da cultura, qualquer que
seja o espetáculo". Claro que essa postagem é uma visão pessoal de um ator
que prioriza o trabalho de grupo no teatro e quem for contra tudo que escrevi
que argumente e derrube meu ponto de vista. Esse é o meu ponto de vista e o
seu?
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Ed Paixão é ator, professor de teatro, palhaço e conselheiro municipal de cultural da área temática de teatro.
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