Qualquer coisa que me faltasse na
boca era coisa certa, coisa de bicho. Então ficava só falando, virando a coisa
pra baixo, empurrando o peso pra não se mexer.
Ia dizer que a tosse do mundo me
doía, e também que eu dirigia um carro grande e muito veloz pela rua do
comércio e, caindo por cima da palavra, eu disse assim: choveu mais cedo.
Tereza me olhou com tanto amor
que eu pensei que fosse Jesus.
Eu me canso Tereza, de ser gente,
e isso eu também não disse. Fiquei olhando ela. Olhando ela de novo, e de novo.
Que eu me sentia bem. Tereza era mulher pra que dissesse pouco.
Meu braço corria teso para frente
do peito, no volante, amassando as costas contra o banco do carro, sobrava para
fora da janela o outro braço, e assim eu dirigia ferozmente pela cidade escura,
levando Tereza pra casa, porque era tarde e a Cidade de Ilhéus pingava as gotas
de água laranja por debaixo dos postes da avenida. Coberta de chuva, a cidade avermelhava o chão
de pedras de basalto, e me trazia de volta à boca a palavra certa, que eu gostava
de Tereza, e de como ela sim, falava, e falava bem.