Você não quer Rutinha, não quer casar? Não carece.
Ele imaginava Rute imaginando o que melhor poderia dizer quando tivesse que
abrir aquela boca por algum motivo, e sem muita volta ele pensou que era assim
mesmo que ela pensava: “não carece”, é que a vaca teimava em parecer mais
inteligente, e ele se punha a imaginá-la Rute imaginando, pensava qualquer
coisa e era nele, de como era forte e sério e calado, e como era bonito quando
comia com o maxilar mais frouxo, a colher virada para o
próprio peito, ela
amaria aquele homem de bigode, aquele homem feio, e tão comum, escuta aqui, eu
sou tua mãezinha, você me segura como se eu fosse égua, você me adora, eu sou
muito burra pra você, e você gosta. Seria sensato repetir isso assim, como se
fosse ela? você me responda, você é um bosta? Rute não sabia com quem lidava,
ele jurava e não podia entender como empunhar uma faca para tirar-lhe o sangue,
por maior esforço que fizesse, a brincadeira de imaginar-se Rute acabava antes
que fosse descoberto, porque ainda que merecesse a pena, a sociedade lhe
permitiria aquilo, seguir muito firme sendo um homem, e Rute, a burra não tinha
percebido isso, ou percebeu e por isso mesmo fugia, e logo não era tão burra
como parecia – Não existe homem culpado, Rute.