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sábado, 7 de janeiro de 2012

"Entre Vistas" com Dado Galvão - por TACILA MENDES


O documentarista Dado Galvão, jequieense, se prepara para lançar sua mais nova produção “Conexão Cuba>Honduras”. O filme foi gravado em 2009, quando ele foi com apenas R$ 600,00 no bolso e passou duas semanas em Cuba e uma em Honduras, países de onde trouxe grandes histórias e viveu momentos surpreendentes. O documentário gerou uma expectativa nacional e internacional desde que começou a ser montado. Nesta entrevista, ele conta como foi realizar esta produção e as expectativas para o lançamento, que acontece em fevereiro, em Jequié.

1 . Como e quando surgiu a idéia de ir a Cuba e Honduras para fazer o documentário “Conexão Cuba-Honduras”?
Eu fui a Cuba em dezembro de 2009, para participar do UNIAL – Universo Audiovisual de Crianças e Adolescentes da América - Latina . Apresentei no evento o documentário “A Grande Moeda”, que tem a participação da Dra. Zilda Arns.

Antes da viagem, minha mãe me mostrou uma entrevista da blogueira Yoani Sánchez, nas páginas amarelas da revista Veja.  Eu li a matéria e gostei, então surgiu a idéia. Em seguida, aconteceram os fatos em Honduras, retirada do presidente Zelaya do poder, envolvimento da diplomacia brasileira, cerco a embaixada do Brasil, então resolvi conferir de perto.

2 . Você já fez outros dois documentários que retratam a realidade de pessoas em situação de risco em sua região. Qual a relação que “Conexão Cuba >Honduras” tem com os seus documentários mais antigos?
“A Fábrica” retrata o cotidiano dos internos do Conjunto Penal de Jequié-BA;  “A Grande Moeda”, é sobre o trabalho dos voluntários da Pastoral da Criança em 11 cidades da região de Jequié, com participação especial da saudosa Dra. Zilda Arns;
“A Caminho do 1° Cine Cufa” é um vídeo experimental que mostra nossa dificuldade para viajar para o Rio de Janeiro para participar de um festival de cinema. Esses trabalhos nos conduzem a uma reflexão sobre os direitos humanos, a valorização da vida, por algumas horas tornam os invisíveis, visíveis, provocando uma reflexão.
“Conexão Cuba > Honduras” tem as mesmas características de denúncia à violação de direitos humanos em Cuba, e a militarização e perseguição que sofreu o Canal 36 de Honduras quando ocorreu a deposição do presidente Zelaya, em Honduras.
O interessante é que podemos trazer para a nossa dimensão os fatos que se passam no filme, sobre liberdade de expressão, meios de comunicação em nossa cidade, estado e país. De quem são? Estão a serviço de quem? Quem são os donos das emissoras de rádio e TV no Brasil?  Será que podemos nos expressar de maneira livre sem ser perseguido ou sofrer retaliações?  

3 . Você conta com a ajuda de amigos, familiares e colegas de trabalho para realizar suas produções. Como foi para fazer o “Conexão Cuba>Honduras”?
“Conexão Cuba>Honduras” foi construído com solidariedade, ajuda do comércio local (93 FM, Jornal de Jequié, FIEF, Sérgio Costa Propaganda, Geraldo Fotografias) amigos e familiares e voluntários.

4 . Quais foram as maiores dificuldades e surpresas que você encontrou nas viagens da gravação de “Conexão Cuba>Honduras”?  
A maior dificuldade foi convencer a atual secretária de educação de Jequié, liberar a câmera para que eu pudesse seguir viagem. Depois de muitos pedidos a câmera foi liberada, então foi possível viajar (é vergonhoso), mas foi assim que aconteceu. 
Em Cuba, apesar de ter o visto de jornalista, não me apresentei ao Centro de Imprensa Internacional (como todo jornalista estrangeiro é obrigado a fazer). Quando fui descoberto já tinha entrevistado muita gente, sofri ameaça de expulsão e prisão, mas como estava em Cuba também a convite, contribuiu para que as ameaças não se concretizassem. 
Em Honduras tive medo, estava filmando nos arredores da embaixada do Brasil, quando fui cercado pelas costas por policiais do exército hondurenho, que pediram aos gritos que eu colocasse a filmadora no chão e entregasse o passaporte.
Um veiculo da ONU que levava alimentos e água para embaixada do Brasil, chegou no momento em que os policiais me abordavam. O veículo chamou a atenção dos policiais, peguei a câmera coloquei na mochila e nas costas, o passaporte foi devolvido depois de um 5 minutos, sob ameaças de que se voltasse ali novamente seria preso.                Vi muitas pessoas armadas pelas ruas da capital Tegucigalpa, um índice altíssimo de                      homicídios por arma de fogo, jornalista é tratado a bala em Honduras ainda hoje (um dos lugares mais perigosos para trabalhos jornalísticos).     
 

5 . Como foi a metodologia de gravação nessa viagem? Houve um roteiro pré-estabelecido do que você seguiu à risca ou foi de outra forma?
O “roteiro imaginário” foi construído com os fatos que aconteceram durante e após a viagem.

6 . Depois de várias solicitações enviados ao governo cubano, para trazer Yoani Sanchez para o lançamento do “Conexão Cuba>Honduras” ,  e as inúmeras negativas, em que pé está essa negociação?
Enviamos outro convite por meio da Comissão de Relações Exteriores do Senado, CRE, por intermédio do senador Eduardo Suplicy que tenta de todas as formas diplomáticas dialogar com autoridades cubanas e brasileiras para que Yoani possa viajar ao Brasil.
Foi divulgado nesta quarta (04/01), um vídeo em que Yoani pede a ajuda da presidenta Dilma, para que o governo cubano libere sua viagem.  Vamos ver o resultado disso em poucos dias.

7 . Você já conseguiu uma visibilidade nos veículos de comunicação (Folha de São Paulo, A Tarde, revistas Veja e Época, etc.), que geraram uma expectativa nacional para o lançamento do documentário. A que você atribui tamanho interesse da mídia?
É conjunto de fatores: temática, Cuba, Yoani Sánchez, a história de como viajei para gravar o documentário e como estamos construindo o evento para a 1ª exibição (vai uma sugestão para um cineasta que porventura leia essa entrevista) a história de como tudo aconteceu daria um bom filme de ficção com tempero de realidade. 

8 . O senador Eduardo Suplicy estará no lançamento do documentário, em fevereiro, em Jequié. Como se deu o envolvimento dele nessa produção e de forma ele contribuiu para o resultado do documentário?
Foi o senador que escolheu a data . Deixei a critério dele opções de data para que ele pudesse vir a Jequié.
Escrevi para o senador pedindo ajuda, desde então ele vem acompanhando o caso com sua eficiente assessoria e fazendo gestão para que Yoani possa vir ao Brasil.
Não tenho palavras para agradecer o empenho, dedicação e simplicidade de um senador que orgulha os brasileiros (senador de verdade).

9 . Sua formação é em administração e Marketing. Como começou a pensar no audiovisual como filosofia de vida?
Foi na época do colégio, quando realizei um vídeo para um seminário de literatura Fizemos um vídeo com uma câmera VHS sobre o Jorge Amado. O seminário aconteceria em uma sexta-feira à noite, conseguimos a atenção dos colegas ao exibir o vídeo. Visualizei naquele momento que o audiovisual é uma importante ferramenta para promover transformação social. Parece que eu estava certo, vivencio isto hoje na prática (sem fronteiras).

1 .   Quais os planos para o “Conexão Cuba>Honduras” depois do lançamento?
Vamos inscrever o filme em alguns festivais específicos para documentários (estamos abertos também para convites de exibições). No futuro, para quem desejar adquirir cópia em DVD, disponibilizaremos uma via de solicitação no site www.dadogalvao.org   

Assista também:





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Tacila Mendes, 26 anos, é comunicóloga e especialista em  Audiovisual pela Universidade  Estadual de Santa Cruz.   Além de fotografar e dar aulas nesta área, se envereda pela produção cultural da região, escrevendo projetos  para captação de recursos e trabalhando  também como assessora de imprensa.  Fez parte da equipe da 1ª e da 2ª MUSA –  Mostra Universitária Salobrinho de Audiovisual;  do projeto Afrofilisminogravura; do 1º Festival de Cinema Baiano - FECIBA; o Bahia Sound System e do Memórias do rio Cachoeira.
 Gosta também de cantar e faz parte do projeto "Mulheres em Domínio Público", do qual é uma das quatro intérpretes.  Foi eleita Conselheira Municipal de Cultura de Ilhéus no setor de Audiovisual (2011).
 Como gosta de conhecer gente, seus estilos e formas de pensar, lugares e tudo que lhe parece diferente e interessante, propõe um papo "Entre Vistas" a fim de descortinar esses mundos...