O documentarista Dado Galvão,
jequieense, se prepara para lançar sua mais nova produção “Conexão Cuba>Honduras”.
O filme foi gravado em 2009, quando ele foi com apenas R$ 600,00 no bolso e
passou duas semanas em Cuba e uma em Honduras, países de onde trouxe grandes
histórias e viveu momentos surpreendentes. O documentário gerou uma expectativa
nacional e internacional desde que começou a ser montado. Nesta entrevista, ele
conta como foi realizar esta produção e as expectativas para o lançamento, que
acontece em fevereiro, em Jequié.
1 . Como
e quando surgiu a idéia de ir a Cuba e Honduras para fazer o documentário
“Conexão Cuba-Honduras”?
Eu fui a Cuba em dezembro de 2009, para
participar do UNIAL – Universo Audiovisual de Crianças e Adolescentes da
América - Latina . Apresentei no evento o documentário “A Grande Moeda”, que
tem a participação da Dra. Zilda Arns.
Antes da viagem, minha mãe me mostrou uma
entrevista da blogueira Yoani Sánchez, nas páginas amarelas da revista Veja. Eu li a matéria e gostei, então surgiu a
idéia. Em seguida, aconteceram os fatos em Honduras, retirada do presidente
Zelaya do poder, envolvimento da diplomacia brasileira, cerco a embaixada do
Brasil, então resolvi conferir de perto.
2 . Você
já fez outros dois documentários que retratam a realidade de pessoas em
situação de risco em sua região. Qual a relação que “Conexão Cuba >Honduras”
tem com os seus documentários mais antigos?
“A Fábrica” retrata o cotidiano dos
internos do Conjunto Penal de Jequié-BA;
“A Grande Moeda”, é sobre o trabalho dos voluntários da Pastoral da Criança
em 11 cidades da região de Jequié, com participação especial da saudosa Dra.
Zilda Arns;
“A Caminho do 1° Cine Cufa” é um vídeo
experimental que mostra nossa dificuldade para viajar para o Rio de Janeiro
para participar de um festival de cinema. Esses trabalhos nos conduzem a uma
reflexão sobre os direitos humanos, a valorização da vida, por algumas horas
tornam os invisíveis, visíveis, provocando uma reflexão.
“Conexão Cuba > Honduras” tem as mesmas
características de denúncia à violação de direitos humanos em Cuba, e a
militarização e perseguição que sofreu o Canal 36 de Honduras quando ocorreu a
deposição do presidente Zelaya, em Honduras.
O interessante é que podemos trazer para a nossa
dimensão os fatos que se passam no filme, sobre liberdade de expressão, meios
de comunicação em nossa cidade, estado e país. De quem são? Estão a serviço de
quem? Quem são os donos das emissoras de rádio e TV no Brasil? Será que podemos nos expressar de maneira
livre sem ser perseguido ou sofrer retaliações?
3 . Você
conta com a ajuda de amigos, familiares e colegas de trabalho para realizar
suas produções. Como foi para fazer o “Conexão Cuba>Honduras”?
“Conexão Cuba>Honduras” foi construído
com solidariedade, ajuda do comércio local (93 FM, Jornal de Jequié, FIEF,
Sérgio Costa Propaganda, Geraldo Fotografias) amigos e familiares e
voluntários.
4 . Quais
foram as maiores dificuldades e surpresas que você encontrou nas viagens da gravação
de “Conexão Cuba>Honduras”?
A maior dificuldade foi convencer a atual
secretária de educação de Jequié, liberar a câmera para que eu pudesse seguir
viagem. Depois de muitos pedidos a câmera foi liberada, então foi possível
viajar (é vergonhoso), mas foi assim que aconteceu.
Em Cuba, apesar de ter o visto de
jornalista, não me apresentei ao Centro de Imprensa Internacional (como todo
jornalista estrangeiro é obrigado a fazer). Quando fui descoberto já tinha
entrevistado muita gente, sofri ameaça de expulsão e prisão, mas como estava em
Cuba também a convite, contribuiu para que as ameaças não se concretizassem.
Em Honduras tive medo, estava filmando nos
arredores da embaixada do Brasil, quando fui cercado pelas costas por policiais
do exército hondurenho, que pediram aos gritos que eu colocasse a filmadora no
chão e entregasse o passaporte.
Um veiculo da ONU que levava alimentos e
água para embaixada do Brasil, chegou no momento em que os policiais me
abordavam. O veículo chamou a atenção dos policiais, peguei a câmera coloquei
na mochila e nas costas, o passaporte foi devolvido depois de um 5 minutos, sob
ameaças de que se voltasse ali novamente seria preso. Vi muitas pessoas armadas pelas
ruas da capital Tegucigalpa, um índice altíssimo de homicídios por arma de
fogo, jornalista é tratado a bala em Honduras ainda hoje (um dos lugares mais
perigosos para trabalhos jornalísticos).
5 . Como
foi a metodologia de gravação nessa viagem? Houve um roteiro pré-estabelecido
do que você seguiu à risca ou foi de outra forma?
O “roteiro imaginário” foi construído com
os fatos que aconteceram durante e após a viagem.
6 . Depois
de várias solicitações enviados ao governo cubano, para trazer Yoani Sanchez
para o lançamento do “Conexão Cuba>Honduras” , e as inúmeras negativas, em que pé está essa
negociação?
Enviamos outro convite por meio da Comissão
de Relações Exteriores do Senado, CRE, por intermédio do senador Eduardo
Suplicy que tenta de todas as formas diplomáticas dialogar com autoridades
cubanas e brasileiras para que Yoani possa viajar ao Brasil.
Foi divulgado nesta quarta (04/01), um
vídeo em que Yoani pede a ajuda da presidenta Dilma, para que o governo cubano
libere sua viagem. Vamos ver o resultado
disso em poucos dias.
7 . Você
já conseguiu uma visibilidade nos veículos de comunicação (Folha de São Paulo,
A Tarde, revistas Veja e Época, etc.), que geraram uma expectativa nacional
para o lançamento do documentário. A que você atribui tamanho interesse da
mídia?
É conjunto de fatores: temática, Cuba,
Yoani Sánchez, a história de como viajei para gravar o documentário e como
estamos construindo o evento para a 1ª exibição (vai uma sugestão para um
cineasta que porventura leia essa entrevista) a história de como tudo aconteceu
daria um bom filme de ficção com tempero de realidade.
8 . O
senador Eduardo Suplicy estará no lançamento do documentário, em fevereiro, em
Jequié. Como se deu o envolvimento dele nessa produção e de forma ele
contribuiu para o resultado do documentário?
Foi o senador que escolheu a data . Deixei
a critério dele opções de data para que ele pudesse vir a Jequié.
Escrevi para o senador pedindo ajuda, desde
então ele vem acompanhando o caso com sua eficiente assessoria e fazendo gestão
para que Yoani possa vir ao Brasil.
Não tenho palavras para agradecer o
empenho, dedicação e simplicidade de um senador que orgulha os brasileiros
(senador de verdade).
9 . Sua
formação é em administração e Marketing. Como começou a pensar no audiovisual
como filosofia de vida?
Foi na época do colégio, quando realizei um
vídeo para um seminário de literatura Fizemos um vídeo com uma câmera VHS sobre
o Jorge Amado. O seminário aconteceria em uma sexta-feira à noite, conseguimos
a atenção dos colegas ao exibir o vídeo. Visualizei naquele momento que o
audiovisual é uma importante ferramenta para promover transformação social.
Parece que eu estava certo, vivencio isto hoje na prática (sem fronteiras).
1 .
Quais
os planos para o “Conexão Cuba>Honduras” depois do lançamento?
Vamos inscrever o filme em alguns festivais
específicos para documentários (estamos abertos também para convites de
exibições). No futuro, para quem desejar adquirir cópia em DVD, disponibilizaremos
uma via de solicitação no site www.dadogalvao.org
Assista também:
Assista também:
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Tacila
Mendes, 26 anos, é
comunicóloga e especialista em Audiovisual pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Além de
fotografar e dar aulas nesta área, se envereda pela produção cultural da
região, escrevendo projetos para
captação de recursos e trabalhando também como assessora de imprensa. Fez parte da equipe da 1ª e da 2ª MUSA – Mostra Universitária Salobrinho de
Audiovisual; do projeto
Afrofilisminogravura; do 1º Festival de Cinema Baiano - FECIBA; o Bahia Sound
System e do Memórias do rio Cachoeira.
Gosta também de cantar e faz parte do projeto
"Mulheres em Domínio Público", do qual é uma das quatro
intérpretes. Foi eleita Conselheira
Municipal de Cultura de Ilhéus no setor de Audiovisual (2011).
Como gosta de conhecer gente, seus estilos e
formas de pensar, lugares e tudo que lhe parece diferente e interessante, propõe
um papo "Entre Vistas" a fim de descortinar esses mundos...