Ouvir o mais novo trabalho de Sérgio Ramos é
uma tarefa (já me apropriando do título do álbum) muito Simples: basta apertar o play na primeira música e deixar rolar o
som que sai da efervescência intelectual de uma das mentes mais lúcidas,
práticas e sem rodeios que nós temos na região.
Claro que algo tão novo e diferente é logo incompreendido, mas são ossos do
ofício de um artista em constante mutação que busca a evoluir seu interior
utilizando a música como foco atual.
Muito prazeroso ouvir neste trabalho o trato instrumental
muito bem elaborado. Cada som, cada instrumento, cada efeito foi calculado num
refinamento generoso.
O repertório, todo autoral, diga-se de passagem,
traça uma linha tênue do real e do imaginário, com sérias pitadas de cotidiano
e naturalidade. Como bom artista plástico que é, pincela de lilás as letras
azuis que enriquecem as melodias dando um colorido especial para a dura
realidade atrás das janelas.
Logo nas primeiras músicas exalta a vida e a
natureza protestando contra nossas ações vis e do afastamento do amor, da
felicidade e da ética.
Em Realidade Virtual e Palavra, a letra é
precisa, cortante sem mais devaneios. A ginga vem com as músicas Samba Simples
e Frevo de Olinda mostrando seu diálogo com nossas raízes. A alma de
ambientalista permeia quase todas as músicas, mas o destaque é Não. Bluar Sertânico
é talvez sua maior ousadia, mas para um músico ávido de mostrar sua sanha
produtiva, torna-se mais que um lugar-comum.
Gostei e recomendo. Muito interessante
iniciar o ano com um trabalho deste porte nas mãos. Música sempre será música,
basta a gente sentir.
Antônio Melo é músico