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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Azul - por DANIEL PRUDENTE

Não há outro, um azulejo, se cabe inteiro sobre a janela não tem nome de céu. É coisa azul que parece pintada com a mesma tinta-giz de igreja nordestina. É para dentro de um retângulo magro que a cor se esbranquiça e acende no quarto a tarde. Hoje eu perfumo o pescoço e deito a cabeça mole sobre as mãos. Lá fora a tarde não carece correr, grudada que está nas pencas de banana no asfalto, lá fora há muita gente e todos silenciam a parte que lhes cabe de céu.  
Eu cobrirei a cabeça de um torso branco para trazer no cocuruto o meu santo, e para lhe dizer que se acalme já, que aqui estou se por alguma feita ele precise; que eu lhe obedeço e que não vou pra longe. a tarde amadurece na minha cabeça e acende meus olhos na cor. Eu vejo Deus.

Eu vejo a carne de pele que me rodeia os olhos, eu vejo meu olho caminhando quebrado, eu estico de dedo meus olhos no céu. A cor não balança nem some, e não está ali; esse azul no céu é de lembrança.