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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um passeio a pé entre a roça e a cidade pela estrada de chão - por ELOAH MONTEIRO*



Nos últimos tempos, essa moça tem sido alvo de muitos olhares. Representa a grande revelação da música contemporânea no Brasil e no mundo. Trata-se de Tulipa Ruiz, persona exótica não só pelo nome, mas também pela mistura que realiza entre o som eletrônico e suas composições, tão soltas quanto podem ser. 

No início, confesso que resisti. Toninho falou-me do artigo que saiu na Revista Rolling Stones e eu fui correndo conferir. Mas, quando a escutei, senti-me frustrada. Não sou muito chegada à música eletrônica; e todos os efeitos presentes nos arranjos de sua música me incomodaram um pouco. À primeira vista, soou medíocre, pois, por incrível que pareça, quando o assunto é música, me pego presa ao que é clássico, estou em processo de adaptação à antropofagia eletrônica atual.

Alguns meses se passaram e resolvi insistir. Resultado: quebrei a cara! Percebi que, como em tantos outros casos musicais, é necessário maturidade para entendê-la. A Tulipa é simplesmente um rouxinol e, embora as composições que cante em seu álbum de estreia, o Efêmera, não sejam obras primas, aparecem muito bem interpretadas e arranjadas.

Aliada a sua extrema afinação, seu trabalho traz canções que parecem puro instinto, experimentação de sensações. Tive a impressão de estar acompanhando uma história em tempo real quando a escutei da última vez, como quando cantarolamos qualquer coisa olhando a lua sem um gravador por perto para registrar o que se passou. É isso, ela traduz esse sentimento, mostra trilhas sonoras para esses momentos difíceis de serem descritos, e com uma voz de dar inveja a qualquer cantora.

Em seu trabalho, é notável o cuidado com os arranjos. Os sons eletrônicos são usados com moderação e os metais aparecem na hora certa. Os ritmos e as divisões também são muito criativos e, embora haja a predominância da batida pop, volta e meia deixa o pé latino de fora. Na primeira canção do disco, por exemplo, o ritmo de fundo parece um calypso repaginado. Exibe fortes traços do pop paulistano e, aos meus ouvidos, se assemelha a toda essa geração de novas cantoras – Mallu Magalhães, Vanessa da Mata, Érika Machado, Céu –, com essa vozinha terna, uniforme, afinada, aguda. Só que é mais talentosa, mais cheia, melhor intérprete. Segundo Paulo Terron, o seu estio é “’pop-florestal’: uma música extremamente urbana, mas que olha com saudade e admiração o interior e seu clima pastoril”.


Colocando-me enquanto cantora de “nascença”, nem leiga nem expert, acredito que Ruiz tenha um quê adolescente, mas com porte profissional, adulto, ela trabalha numa linguagem doce e imprevisível, simples e elaborada. Com o tempo, demonstra o quão maduro deve ser quem deseja entendê-la, e o quão forte quem pretende ignorá-la. Uma prova do despertar de sensações que a sua música pode provocar, é a alegria que o meu filho de sete meses transparece quando a ouve em mp3.

Do universo de informações que eu poderia apresentar acerca dessa “boa nova” brasileira, fica esse breve registro. Ouvir Tulipa Ruiz significa agitar-se sem transpirar, dar voltas ao mundo sem mover um fio de cabelo, respirar como se comesse chocolate. Aos que não a conhecem ou não conseguiram captar o que digo, permitam-se...


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Eloah Monteiro, 24 anos, é cantora, atriz, baiana e jornalista.


Um comentário:

Maicou disse...

É isso aí, moça... antes tarde do que nunca... a parada é não ter preguiça de ouvir as paradas :P