Nos
últimos tempos, essa moça tem sido alvo de muitos olhares. Representa a grande
revelação da música contemporânea no Brasil e no mundo. Trata-se de Tulipa Ruiz, persona exótica não só pelo nome, mas também pela mistura que
realiza entre o som eletrônico e suas composições, tão soltas quanto podem ser.
No
início, confesso que resisti. Toninho falou-me do artigo que saiu na Revista Rolling Stones e eu fui correndo conferir. Mas, quando
a escutei, senti-me frustrada. Não sou muito chegada à música eletrônica; e
todos os efeitos presentes nos arranjos de sua música me incomodaram um pouco. À
primeira vista, soou medíocre, pois, por incrível que pareça, quando o assunto
é música, me pego presa ao que é clássico, estou em processo de adaptação à
antropofagia eletrônica atual.
Alguns
meses se passaram e resolvi insistir. Resultado: quebrei a cara! Percebi que,
como em tantos outros casos musicais, é necessário maturidade para entendê-la.
A Tulipa é simplesmente um rouxinol e, embora as composições que cante em seu
álbum de estreia, o Efêmera,
não sejam obras primas, aparecem muito bem interpretadas e arranjadas.
Aliada
a sua extrema afinação, seu trabalho traz canções que parecem puro instinto,
experimentação de sensações. Tive a impressão de estar acompanhando uma
história em tempo real quando a escutei da última vez, como quando cantarolamos
qualquer coisa olhando a lua sem um gravador por perto para registrar o que se
passou. É isso, ela traduz esse sentimento, mostra trilhas sonoras para esses
momentos difíceis de serem descritos, e com uma voz de dar inveja a qualquer
cantora.
Em
seu trabalho, é notável o cuidado com os arranjos. Os sons eletrônicos são usados
com moderação e os metais aparecem na hora certa. Os ritmos e as divisões
também são muito criativos e, embora haja a predominância da batida pop, volta
e meia deixa o pé latino de fora. Na primeira canção do disco, por exemplo, o
ritmo de fundo parece um calypso
repaginado. Exibe fortes traços do pop paulistano e, aos meus ouvidos, se
assemelha a toda essa geração de novas cantoras – Mallu Magalhães, Vanessa da Mata, Érika Machado, Céu –, com essa vozinha terna, uniforme, afinada, aguda. Só que é mais talentosa, mais cheia, melhor intérprete. Segundo
Paulo Terron, o seu estio é “’pop-florestal’: uma música extremamente urbana, mas que olha com saudade e
admiração o interior e seu clima pastoril”.
Colocando-me
enquanto cantora de “nascença”, nem leiga nem expert, acredito que Ruiz tenha um quê adolescente, mas com porte
profissional, adulto, ela trabalha numa linguagem doce e imprevisível, simples
e elaborada. Com o tempo, demonstra o quão maduro deve ser quem deseja
entendê-la, e o quão forte quem pretende ignorá-la. Uma prova do despertar de
sensações que a sua música pode provocar, é a alegria que o meu filho de sete
meses transparece quando a ouve em mp3.
Do
universo de informações que eu poderia apresentar acerca dessa “boa nova”
brasileira, fica esse breve registro. Ouvir Tulipa Ruiz significa agitar-se sem
transpirar, dar voltas ao mundo sem mover um fio de cabelo, respirar como se
comesse chocolate. Aos que não a conhecem ou não conseguiram captar o que digo,
permitam-se...
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Eloah Monteiro, 24 anos, é cantora, atriz, baiana e jornalista.
Um comentário:
É isso aí, moça... antes tarde do que nunca... a parada é não ter preguiça de ouvir as paradas :P
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