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Juca Ferreira e Gilberto Gil: ex ministros da Cultura |
“Considero
a organização da Cultura no país, como um dos maiores fatos já ocorridos deste
a criação do Ministério da Cultura nos anos 80.”
P.C.
A
revista Bravo! deste mês acaba de publicar os 15 fatos mais relevantes da
Cultura brasileira nos últimos quinze anos. Confesso que fiquei em parte,
decepcionado. Digo, em parte, porque alguns dos acontecimentos mais marcantes deveriam
ter sido retratados de forma imparcial, a exemplo do florescimento da escrita,
o sucesso do cinema de ação no Brasil, a renovação do documentário, a ascensão
da música independente e a disseminação do Teatro de Grupo. É óbvio que neste
último, o jornalista responsável por eleger este fato cita apenas grupos do Rio
de Janeiro (Companhia dos Atores), Belo Horizonte (Galpão), Porto Alegre (Tribo
de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz), Curitiba (Companhia Brasileira de Teatro) e
Campinas (Lume). Cita ainda como grande avanço deste segmento a lei 13.279, que
institui em 2002 o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São
Paulo. “Fruto da reivindicação de trupes jovens e veteranas, reunidas em torno
do Movimento Arte Contra a Barbárie”, assinala o também pesquisador, Valmir
Santos. Esquece de grupos importantes como O Bando de Teatro Olodum, criado por
Márcio Meirelles na capital baiana e o Teatro Popular de Ilhéus, ou seja, do
interior. Sem citar o Piolim na Paraíba e tantos outros.
O
fato é que, o surgimento de uma Broadway nacional, levando em consideração o
teatro musical no Brasil, apesar das megaproduções como Ópera doMalandro (2003)
e o Fantasma da Ópera (2005), citado como um dos fatos mais impressionantes dos
últimos quinze anos; a revitalização da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo; o nascimento do Instituto INHOTIM, em Minas Gerais, uma espécie
de museu a céu aberto e a nacionalização da alta gastronomia deixam claro o
ponto de vista da revista de atestar que o que surgiu de melhor nestes 15 anos
(também da revista) na Cultura estão concentrados nas regiões sul, sudeste e
centro-oeste do país. Que lástima.
A
revista acerta ao reconhecer o crescimento internacional da arte contemporânea
brasileira, da explosão da dança, da descoberta da periferia pelo centro, do
advento das semanas de moda que revelou talentos como o jovem Pedro Lourenço,
de 21 anos. E, claro, o boom dos quadrinhos brasileiros. André Forastieri foi
feliz ao afirmar que o mercado brasileiro de quadrinhos vive, de fato, seu
melhor momento. “Brilha em biografias, adaptações de clássicos literários e
álbuns com temas históricos.”
Entretanto,
considero a organização da Cultura no país, como um dos maiores fatos já
ocorridos deste a criação do Ministério da Cultura nos anos 80. A noção de
“Sistema”, a ampliação da visão da cultura como elemento simbólico, cidadã e
econômico, a criação do Programa Cultura Viva, a reestruturação da FUNARTE, o
direcionamento dos recursos estatais para a cultura por meio de seleções
públicas, o debate em torno do Plano Nacional da Cultura, a criação do Sistema
Nacional de Informações e Indicadores Culturais e o Programa de Intercâmbio e
Difusão Cultural são, para mim, uma questão selada.
Organizar
a Cultura deste país possibilitou a descentralização de recursos que antes
ficavam somente nas regiões em que a Bravo! diz ocorrer os mais significativos
fatos nacionais. Houve uma polarização de ideologias, surgiram tecnologias
intermediárias e percebeu-se a importância das profissões relacionadas à
organização da Cultura.
Obrigado,
Gil! Obrigado, Juca! Vocês, sim, conseguiram mudar a visão de Cultura, não só da
Bahia, onde nasceram, mas do Brasil. Este país tão diverso, tão múltiplo e tão
desigual.
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