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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Intolerância, não! - por LUCIANO CERQUEIRA


Desde domingo passado, e ao longo de toda a semana, dediquei  boa parte do tempo pensando e me indignando com as notícias que tenho visto na TV. Eu já tinha prometido a mim mesmo que não assistiria mais os noticiários e, ao invés de me martirizar diante de crimes covardes, escândalos políticos e corrupção, dedicaria meu precioso tempo aos episódios repetidos do “Chaves ” (isso, isso, isso), “Todo Mundo Odeia a Cris” (menos eu!!!) e “Pica-Pau” (ao contrário do que alguns possam pensar, não me considero um idiota por preferir o “passaro-sacana-do-penacho vermelho” à “vovozinha-tirada-a-gatinha-do cabelo-amarelo”). Infelizmente sou um viciado em jornais, revistas e afins. Sou “doido” por informação.


Sou daqueles que quando vai meditar na “cela solitária dos pensamentos divagantes e filosóficos pungentes”; sentindo-se entronizado, rei do pedaço, soberano de um reino sem súditos e sem território, leio. Seja revista do mês passado, jornal de ontem, “Seleções” ou, na pressa, sem opção nem tempo para procurar algo para o entretenimento, simplesmente leio as instruções  do verso do tubo de shampoo. Eu amo ler.

A televisão facilita a digestão da notícia. Ela vem já meio que “mastigada”, cabe a você ruminá-la para separar os detalhes e se aprofundar no assunto. Essa “facilidade” me incomoda, pois ao mesmo tempo que me facilita o acesso e a compreensão da notícia, banaliza o fato, tornando-o cru o bastante para ser intragável, nauseante e tremendamente indigesto. Assim seguimos vendo a “violência nossa de cada dia” em pleno horário de almoço (vai encarar um corpo degolado, enquanto mastiga um bife malpassado?), um pai de família assassinado na hora do café ou mais uma chacina antes de dormir (e quando termina o jornal ainda lhe desejam um sonoro “boa noite”! Pode?).

Portanto, domingo  já tinha decidido: não vou assistir aquele programa que não tem nada de fantástico, nem aquele outro que de espetacular passa longe. Estava cansado o bastante para simplesmente deitar e dormir ou, quando muito, assistir a um show em DVD de uma boa e relaxante banda de reggae.  Antes de me desligar, contudo, ouvi algo que me deixou inquieto, me despertou o sono e me deixou, muito indignado.  A “rede do bispo” exibia trechos da minissérie  “Sereia” e cenas da entrada da novela “Salve, Jorge”. Pasmei. Pensei... será que as emissora fizeram “as pazes”  e firmaram um contrato de parceria, exibindo em ambas as programações de cada um delas?

A resposta não tardou  aparecer. Um “pastor” havia gerado uma enorme polêmica, “batendo de frente” com a minissérie e as cenas de conotação religiosa afro-descendente. O “vice-presidente da união-associação (?) dos pastores evangélicos do estado do  Rio de Janeiro” (ufa!) reclamava da “falta de espaço” para a abordagem da religião evangélica nos folhetins da emissora do plim-plim”. Até uma doutora, que não me recordo o nome nem a especialidade,  foi entrevistada para traçar os parâmetros entre a figura mitológica da sereia,  Iemanjá , o bem e o mal. Nas suas “mal traçadas linhas”, Sereia = figura sedutora, que arrasta os homens para o fundo do mar; o mal e, Iemanjá = Sereia (imagem que a representa no sincretismo religioso), portanto, Iemanjá = mal !!! Simples assim.



A televisão do bispo, chegou a enviar um e-mail pra a do “plim-plim” perguntando quando os escritores de novelas daquela emissora criariam um personagem principal que fosse evangélico? Putz!

Ora, bolas, uma  polêmica desnecessária e vazia. Que continuem a escrever novelas espíritas; que sigam mostrando o candomblé, seus orixás, pais e filhos de santo. Que sejam os personagens, principais ou secundários, católicos, budistas, mulçumanos ou protestantes. O certo é que a diversidade deve ser respeitada e a exposição desta diversidade proporciona o conhecimento e o despertar benéfico-curiosos de buscar saber mais e, sabendo mais, supera-se o medo do que se desconhece, a ignorância e o preconceito. Como bem cantou Natiruts“é por isso que não temos sopa na colher mas sim anjinhos pra dizer que o lado mal é o candomblé”. A ditadura do “emburrecimento”, tem uma de suas vertentes no sectarismo religioso.

Se a emissora “A”, “B” ou “C”,  faz novelas espíritas, umbandistas ou evangélicas, cabe a cada um escolher qual assistir, se assiste ou não. O maior instrumento de exercício democrático televisivo chama-se “controle remoto” e você tem o poder escolha na palma da mão, literalmente.  Salve, Jorge; Salve, Deus; Salve, a Paz. Salve, salve, Simpatia! Salve, a vida, sem preconceito e sem intolerância, de qualquer natureza.  JAH bless. Tenham todos uma excelente semana. proveitem pra curtir a mensagem de Salomão do Reggae em "Igual a Você"

   
Luciano “Pipo” Cerqueira é advogado, músico, compositor, guitarrista e vocalista da Banda Jah Bless.



fonte da imagem: http://brunoilustras.wordpress.com/2011/07/14/de-saco-cheio/

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