Desde domingo passado, e ao longo de toda a semana, dediquei boa
parte do tempo pensando e me indignando com as notícias que tenho visto na TV.
Eu já tinha prometido a mim mesmo que não assistiria mais os noticiários e, ao
invés de me martirizar diante de crimes covardes, escândalos políticos e
corrupção, dedicaria meu precioso tempo aos episódios repetidos do “Chaves ”
(isso, isso, isso), “Todo Mundo Odeia a Cris” (menos eu!!!) e “Pica-Pau” (ao
contrário do que alguns possam pensar, não me considero um idiota por preferir
o “passaro-sacana-do-penacho vermelho” à “vovozinha-tirada-a-gatinha-do
cabelo-amarelo”). Infelizmente sou um viciado em jornais, revistas e afins.
Sou “doido” por informação.
Sou daqueles que quando vai meditar na “cela solitária dos pensamentos
divagantes e filosóficos pungentes”; sentindo-se entronizado, rei do pedaço,
soberano de um reino sem súditos e sem território, leio. Seja revista do mês
passado, jornal de ontem, “Seleções” ou, na pressa, sem opção nem tempo para
procurar algo para o entretenimento, simplesmente leio as instruções do
verso do tubo de shampoo. Eu amo ler.
A televisão facilita a digestão da notícia. Ela vem já meio que
“mastigada”, cabe a você ruminá-la para separar os detalhes e se aprofundar no
assunto. Essa “facilidade” me incomoda, pois ao mesmo tempo que me facilita o
acesso e a compreensão da notícia, banaliza o fato, tornando-o cru o bastante
para ser intragável, nauseante e tremendamente indigesto. Assim seguimos vendo
a “violência nossa de cada dia” em pleno horário de almoço (vai encarar um
corpo degolado, enquanto mastiga um bife malpassado?), um pai de família
assassinado na hora do café ou mais uma chacina antes de dormir (e quando
termina o jornal ainda lhe desejam um sonoro “boa noite”! Pode?).
Portanto, domingo já tinha decidido: não vou assistir aquele
programa que não tem nada de fantástico, nem aquele outro que de espetacular
passa longe. Estava cansado o bastante para simplesmente deitar e dormir ou,
quando muito, assistir a um show em DVD de uma boa e relaxante banda de
reggae. Antes de me desligar, contudo, ouvi algo que me deixou
inquieto, me despertou o sono e me deixou, muito indignado. A “rede
do bispo” exibia trechos da minissérie “Sereia” e cenas da entrada
da novela “Salve, Jorge”. Pasmei. Pensei... será que as emissora fizeram “as
pazes” e firmaram um contrato de parceria, exibindo em ambas as
programações de cada um delas?
A resposta não tardou aparecer. Um “pastor” havia gerado uma
enorme polêmica, “batendo de frente” com a minissérie e as cenas de conotação
religiosa afro-descendente. O “vice-presidente da união-associação (?) dos
pastores evangélicos do estado do Rio de Janeiro” (ufa!) reclamava
da “falta de espaço” para a abordagem da religião evangélica nos folhetins da
emissora do plim-plim”. Até uma doutora, que não me recordo o nome
nem a especialidade, foi entrevistada para traçar os parâmetros
entre a figura mitológica da sereia, Iemanjá , o bem e o mal. Nas
suas “mal traçadas linhas”, Sereia = figura sedutora, que arrasta os homens
para o fundo do mar; o mal e, Iemanjá = Sereia (imagem que a
representa no sincretismo religioso), portanto, Iemanjá = mal !!! Simples
assim.
A televisão do bispo, chegou a enviar um e-mail pra a do “plim-plim”
perguntando quando os escritores de novelas daquela emissora criariam um
personagem principal que fosse evangélico? Putz!
Ora, bolas, uma polêmica desnecessária e vazia. Que continuem
a escrever novelas espíritas; que sigam mostrando o candomblé, seus orixás,
pais e filhos de santo. Que sejam os personagens, principais ou secundários,
católicos, budistas, mulçumanos ou protestantes. O certo é que a diversidade
deve ser respeitada e a exposição desta diversidade proporciona o conhecimento
e o despertar benéfico-curiosos de buscar saber mais e, sabendo mais, supera-se
o medo do que se desconhece, a ignorância e o preconceito. Como bem cantou Natiruts, “é
por isso que não temos sopa na colher mas sim anjinhos pra dizer que o lado mal
é o candomblé”. A ditadura do “emburrecimento”, tem uma de suas vertentes
no sectarismo religioso.
Se a emissora “A”, “B” ou “C”, faz novelas espíritas,
umbandistas ou evangélicas, cabe a cada um escolher qual assistir, se assiste
ou não. O maior instrumento de exercício democrático televisivo chama-se
“controle remoto” e você tem o poder escolha na palma da mão, literalmente. Salve,
Jorge; Salve, Deus; Salve, a Paz. Salve, salve, Simpatia! Salve, a vida, sem
preconceito e sem intolerância, de qualquer natureza. JAH bless.
Tenham todos uma excelente semana. proveitem pra curtir a mensagem de Salomão
do Reggae em "Igual a Você"
Luciano “Pipo” Cerqueira é advogado, músico, compositor, guitarrista e vocalista da Banda Jah Bless.
fonte da imagem: http://brunoilustras.wordpress.com/2011/07/14/de-saco-cheio/
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