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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Entre Vista com Brena Gonçalves e Laís Marques sobre o CD “Pão Francês” – por TACILA MENDES


Você de Ilhéus e região certamente já ficou em silêncio só contemplando o primor de uma dupla de cantoras, que se apresentam em bares e eventos daqui. Brena Gonçalves e Laís Marques, ambas cantoras e compositoras de Ilhéus,  vem ganhando espaço e reconhecimento nos locais de entretenimento e shows em toda a região. Isso porque a dupla traz uma forma peculiar em sua música, na qual ambas tocam e cantam em uma perfeita sintonia: quem as vê tocar nunca esquece e logo vira fã. 

Brena e Laís já se apresentaram em aberturas de grandes shows como Maria Gadú, Paula Fernandes e Vanessa da Mata. Também já participaram, com outros músicos, de projetos como o “Soma 3” e “Êh Crioula!”, além do trio “Dona Fulô” (projeto junino da dupla).


Mas agora, o que eram somente acordes e notas tocadas para o prazer do ouvinte noturno, vai virar CD. O mais novo projeto da dupla, denominado “Pão Francês”, traz canções autorais e elas prometem: está imperdível! O lançamento será dia 17 de fevereiro, no Bataclan, em Ilhéus. Nesta “Entre Vista”, Brena e Laís contam como foi o processo de amadurecimento e realização do CD, de composição das canções, a trajetória de cada uma e da dupla entre outras coisas tão essenciais como um... pão francês.


Tacila Mendes - “Pão Francês” é um nome bastante sugestivo. Por que vocês o escolheram?

Brena: Esse nome surgiu numa conversa informal entre Laís e eu, onde a gente pensou em montar um novo “esquema de som”, só que não estávamos encontrando espaços para sustentar uma banda, sendo que o som de barzinho, para nós, era mais garantia.  Então, o nome “Pão Francês” vem mesmo da questão cotidiana do som que fazemos. É esse som de barzinho que fazemos todos os fins de semana que “põe o pão na nossa mesa”. E foi por esse motivo que escolhemos esse nome para o projeto.

Laís: “Pão Francês” veio da ligação de que como o nosso som é um alimento base, e nunca falta, e o som de barzinho, bem como o que fazemos, é isso. Só que o projeto tomou proporções bem maiores e deixou evidenciar também que todo artista de barzinho tem totais condições de shows autorais e eventos de grande porte, como todo e qualquer artista.

TM - Vocês faziam parte da banda “Eh Crioula!”, que integrava mais duas musicistas. Agora, “Brena e Laís” seguem o trabalho em dupla.  Por que abriram mão do trabalho com a banda?

Brena: A banda foi um projeto muito bacana, na qual o nosso objetivo era de mostrar o som e a energia da mulher negra da nossa cidade e do Brasil através da música. Infelizmente, após apresentações fantásticas das quais temos muito orgulho, percebemos que não era possível manter uma banda na cidade, sem espaço suficiente para o estilo da banda além de não haver condições de manter músicos apenas para um projeto e, diante de tal situação, decidimos dar continuidade e mais atenção ao trabalho que são as apresentações em barzinhos e eventos. As outras musicistas seguem também com seus projetos pessoais levando som para onde vão. Mas sabendo que assim como o Pão Francês, a “Êh Crioula!” também é um projeto e que não tem prazo de validade e, cujo nome é de autoria de Laís, ela ainda pretende retomá-lo mais a frente.

Laís: Trabalhar com banda em nossa região é algo bem complicado. A banda “Êh Crioula!” era um projeto paralelo a nossas carreiras. Brena já vem se consolidando há tempos no cenário ilheense como cantora e compositora independente, eu vim de perto e também com esse formato solo, e nos juntamos, antes disso, com o “Soma3” pra fazer algo paralelo. Outro fator é a falta de espaço na cidade para aceitação de tantos artistas independentes. Ou seja, os músicos que trabalham nessa área geralmente são envolvidos com outros projetos, e isso dificulta um pouco. O fato de arranjos diferenciados e trabalho de identidade, as coisas acabam ficando sempre parecidas ou um tanto quanto iguais, e a nossa proposta era de realmente fazer a diferença, criar identidade sem influência de outros projetos, começar do zero e pra isso todos teriam que ter o mesmo foco, como não foi o que aconteceu, abrimos mão disso. Mais de forma consciente, hoje todas continuam em contato com a música e é isso que importa. No meu caso, como a sugestão do projeto foi minha, pretendo resgatar esse rótulo em outro momento da minha vida, e tenho certeza que será lindo também! (Risos) E o “Pão Francês” surgiu logo em seguida como ideia de projeto paralelo pra nos dar alegrias do início ao fim, já que se trata de um projeto pra apresentar além de uma parceria, duas artistas diferentes.

TM - Como foi o processo de composição das canções do CD Pão Francês? Contém apenas músicas autorais? Vocês duas compuseram?

Brena: Componho desde os 15 anos, mas venho amadurecendo minhas composições ao longo do tempo. Neste disco, tem músicas que fiz há mais de seis anos e também músicas compostas no ano passado. E as músicas vão aparecendo sem aviso prévio, sabe? (Risos)
O disco, pra mim, foi a forma de gravar em ótima qualidade as canções que eu já havia composto e queria divulgar. No disco, resolvemos colocar as músicas de Laís, as minhas, uma parceria, chamada “Nosso som de cada dia” (que inclusive encabeça o disco), em que contamos através de um blues irreverente o nosso cotidiano no trabalho nos bares e eventos da cidade e região. E ainda fizemos uma releitura de uma música de domínio público (cantigas populares), por conta do público infantil que viemos conquistando em nossas apresentações, e acabou ficando uma versão para todas as idades... (Risos)

Laís: Como dito sempre por nós na campanha, o “Pão Francês” é um projeto bem diferente. Trata de duas temáticas: primeiro celebrar a parceria de duas artistas regionais, e a outra é tratar no mesmo disco das características solo dessas artistas. Portanto, no disco temos 11 canções autorais, onde uma delas é em parceria, e foi elaborada na porta da minha casa em Uruçuca, num dia de descanso, foi saindo livre, gostamos de algumas palavras e começamos a combinar isso junto com a nossa própria história. E as outras dividem-se em 5 composições minhas e 5 de Brena, e ainda uma bônus de domínio público. Nesse processo de composição as músicas costumam vir simples, tipo um texto, com poucos acordes, depois ao tocar, e fazer isso por algumas vezes, vem surgindo os arranjos, as ideias e a música vão crescendo tomando forma... Nossa sou suspeita, adoro e acho isso fantástico! (Risos)

TM - Pão Francês pode ser definido, pela natureza das canções, como “Nova MPB”? Que elementos e gêneros serão trabalhados no CD?

Brena: Exatamente. O disco se caracteriza como Nova MPB por conta do hibridismo rítmico e harmônico. Cresci com muitas influências musicais, sempre muitas referências, e não poderia sair algo muito definido (ou limitado) nas produções, né? O disco está bem rico em ritmos, arranjos... E por mais que as músicas já existissem para mim, sempre acabam tendo mudanças, novas idéias... Além disso, Laís e eu nos deixamos bem livres e abertas para mexer nas músicas de maneira a aperfeiçoar as canções, deixá-las bem lindas.
O disco está bem misturado mesmo, tem blues, ijexá, pop, jungle, influências hispânicas, rock, black music, soul... Enfim, uma infinidade de coisas...hehehe Uma grande e boa mistura!

Laís: Exatamente. Tem um pouco de tudo e o que caracteriza a “Nova MPB” é exatamente essa riqueza de ritmos. Antes um disco seguia uma linha especifica, as músicas tinham arranjos diferentes, mais seguiam uma tendência. No nosso caso, nenhuma música segue isso, cada uma tem sua particularidade, segue uma influência. Desprendemo-nos de tudo e não tivemos problemas em misturar, colocamos todas as efusões de tudo que escutamos e gostamos em cada canção de modo a ter um conjunto bem diferente, mas desenhando um pouquinho de nós em cada canção.

TM - Há outros músicos em estúdio? Como estão sendo essas parcerias durante a gravação, eles colaboram?

Brena: Sendo filha de Ilhéus. Há muito tempo, venho tocando com os músicos da cidade. Como já tenho um trabalho de mais de seis anos aqui na cidade, fazendo som por aqui, sempre tive por perto músicos muito bons e parceiros. E no disco não foi diferente. Marcos Vasconcelos (o Pop), guitarrista de mão cheia, conheci aos meus 14 anos quando descobri que ele era meu vizinho, e desde então a parceria foi certa, sempre me ensinou bastante e sempre foi presença confirmada em todas as minhas apresentações mais importantes. Com Jorge Rodrigues não foi diferente, também foi um baixista que conheço há muito tempo e que sempre deixou transbordar uma sensibilidade sonora e artística muito grande, além disso também participou de várias apresentações importantíssimas minhas. Paulo Damasceno (PH do Acordeon), é um sanfoneiro de mão cheia, que tem o forró na veia. Temos uma parceria sonora desde a época que eu tocava contrabaixo na banda de forró “Severina Chique” (banda só de meninas onde comecei no cenário musical da cidade). O bluezeiro Ismera Rock, que conheci na Faculdade fazendo um super som independente com a banda Mendigos Blues e que sempre foi parceiro em todas as empreitadas as quais o convidei. O querido Charles Wiliams, um verdadeiro professor, é uma pessoa que adorei conhecer  através de Laís, e que sempre se mostrou muito parceiro, além de super baterista e tecladista, ele é produtor musical e foi essencial para as gravações, entrou junto a Cida Lisboa, com o Studio Brown nos dando todo suporte pra a realização das gravações do disco.

Colaboração é o nome dessa equipe maravilhosa, eles acertaram direitinho no que nós precisávamos. Gravando em tempo recorde, disponibilizando do tempo deles para ir lá no studio com a gente... enfim, eles foram mais que 10! Só temos a agradecer imensamente a eles por nos ajudar nesse passo de nossas vidas.

Laís: Sim, a ideia central do disco era gravar nossas composições inspiradas no som que fazemos em barzinho. Mas isso cresceu e muito, e as parcerias existiram desde o Studio Brown, onde gravamos o material. Cida e Charles (proprietários do estúdio) perceberam desde o início a necessidade de mais atenção as composições e que talvez a maneira mais simplista fosse fechar os olhos a músicas grandiosas. Mas inscrevemos o projeto na rede com pouco recurso e sem querer ousar muito, só que isso foi crescendo, a cada música apresentada e a necessidade de mais músicos, arranjos e pensamentos maiores tomou conta, e nos levou a contar com amigos parceiros. Esses músicos participantes do nosso disco, não são apenas profissionais, são pessoas que também acreditam no nosso som e colaboraram vestindo a camisa do projeto, atuando também em parceria para viabilizar isso. Portanto, só temos a agradecer, desde o inicio contamos com muitas pessoas do bem e dispostas a tornar o “Pão Francês” algo real e que superasse as expectativas, e tá aí... Essa “lindeza” (Risos)! Estamos maravilhadas e muito felizes com o resultados, somos de todo, gratidão!

TM - Vocês conseguiram o recurso para pagar a gravação do CD “Pão Francês”, por meio da plataforma colaborativa “Catarse.me”, na internet. Como vocês avaliam o resultado?

Brena: O resultado foi mais que positivo! Tivemos a sensação de que colocar o projeto no ar e tentar seria um risco, mas nos enganamos maravilhosamente! O projeto teve 100% da arrecadação pretendida na metade do tempo que o site nos disponibilizou. Ficamos muito felizes, e percebemos que as pessoas não se fecharam para isso. E o que nos deixa muito realizadas, é o fato de conseguir mostrar resultados positivos e, também o fato de incentivar outros artistas da região a projetar seus trabalhos e mostrar suas produções autorais!

Laís: O “Catarse” foi a engrenagem essencial, atentamos para essa rede depois de comentários de amigos e decidimos então elaborar o projeto, sem muita experiência, na preocupação de não buscar valores inviáveis de serem atingidos recorremos a parcerias, já no orçamento inicial, onde mais uma vez contamos com o apoio do Studio Brown já entrou como patrocinador de parte do valor, então conseguimos colocar o projeto no ar com um valor possível  de atingir, mas claro, absolutamente fora dos valores de mercado. Ainda assim tivemos despesas posteriores e por isso a correria não parou depois do projeto, o crescimento do mesmo foi inevitável então até o fim dessa semana estávamos fechando patrocínio para a finalização do disco de acordo com a proporção que tomou, tendo como o último patrocinador o Mar Aberto, que assumiu essas despesas finais como apoiador do nosso trabalho também. De colaboradores, parceiros, enfim, não temos do que nos queixar, o projeto cresceu, o trabalho ficou maior, mais também encontramos pessoas que acreditam mesmo no artista local, e que respeitam bastante nossa batalha e, portanto, acima de todo trabalho tivemos bastante êxito nas parcerias, somos gratas demais.

TM - O que público pode esperar de “Pão Francês”?

Brena: Estaremos lançando o disco no próximo dia 17 de fevereiro, no Bataclan às 19:30h. E, na verdade, o público pode esperar muitas boas vibrações nesse lançamento. O disco “Pão Francês” não é um disco comum onde o artista expõe suas obras para serem apenas apreciadas, o nosso disco propõe participação, pois desde o seu embrião, contou com a colaboração de todos que acompanham e até os que não conhecem o nosso trabalho. Portanto, quem for a esse lançamento e quem ouvir esse CD, a gente espera fazê-lo se sentir parte de cada acorde, de cada arranjo e de cada cor. Que amem! (Risos)

Laís: Nossa, estamos tendo um retorno fantástico, colocamos uns aperitivos na rede, 3 músicas, já que o “Pão Francês” é um disco diferente ele tem 3 músicas de trabalho e não apenas uma! (Risos) E ainda nos surpreendemos com a receptividade das canções. Portanto, pelo visto, elas esperam exatamente o que podemos oferecer muita música, canções autorais com um pouquinho de nós como resultado de muito trabalho, para encantar cada um dos que estiveram por lá, e dos nossos colabores que esperam ansiosos pelo disco em suas respectivas recompensas!

TM - Quais são os planos de Brena e Laís depois de terem “Pão Francês” pronto?
Brena: A gravação desse disco foi a oportunidade que tivemos de cada cantora e compositora (no caso eu e Laís) colocar sua cara no trabalho. Cada uma pôs suas composições para ter a oportunidade de expressar sua identidade musical de forma individual, só que num disco em parceria. Além disso, a maioria das pessoas que nos veem tocar, veem sempre as duas juntas. Exatamente por não termos a oportunidade de fazer um show, cada uma em um lugar aqui, onde o público acaba sendo o mesmo. Não havendo as possibilidades de sustentar nossos trabalhos solo aqui na cidade, decidimos fazer essa parceria nos trabalhos em barzinhos, além de adorarmos tocar juntas. A nossa vontade era de podermos fazer participações nos shows uma da outra felizes e com frequência, mas infelizmente isso aqui na cidade não acontece. Pretendemos estar sempre juntas atuando nos projetos culturais, crescendo cada vez mais com muito trabalho, dedicação e arte, principalmente arte!

Laís: O “Pão Francês” é um projeto, então pode durar o tempo que quiser, e conforme o disco mostra, além da parceria, temos vontade de desenvolver nossas carreiras solo em paralelo a tudo isso. Estamos pensando também em buscar outros horizontes, tentar algumas coisas fora da cidade, até mesmo buscar divulgar o trabalho fora do estado, pra colher alguns frutos disso, e buscar realizar novos projetos, levando a música como base sempre. Outro caminho que nos interessa bastante, é estudar um pouco mais para desenvolver projetos que nos possibilitem espalhar ainda mais nosso som, juntas ou em carreira solo, nossa torcida é mais que recíproca, e o som é de todos, portanto, os laços são eternos!

Acessem e confiram mais “Pão Francês” de Brena e Laís!
Site da dupla:


Tacila Mendes, 26 anos, é comunicóloga e especialista em  Audiovisual pela Universidade  Estadual de Santa Cruz.   Além de fotografar e dar aulas nesta área, se envereda pela produção cultural da região, escrevendo projetos  para captação de recursos e trabalhando  também como assessora de imprensa.  Fez parte da equipe da 1ª e da 2ª MUSA –  Mostra Universitária Salobrinho de Audiovisual;  do projeto Afrofilisminogravura; do 1º Festival de Cinema Baiano - FECIBA; o Bahia Sound System e do Memórias do rio Cachoeira.
 Gosta também de cantar e faz parte do projeto "Mulheres em Domínio Público", do qual é uma das quatro intérpretes.  Foi eleita Conselheira Municipal de Cultura de Ilhéus no setor de Audiovisual (2011).
 Como gosta de conhecer gente, seus estilos e formas de pensar, lugares e tudo que lhe parece diferente e interessante, propõe um papo "Entre Vistas" a fim de descortinar esses mundos...

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