Você de
Ilhéus e região certamente já ficou em silêncio só contemplando o primor de uma
dupla de cantoras, que se apresentam em bares e eventos daqui. Brena Gonçalves e Laís Marques, ambas
cantoras e compositoras de Ilhéus, vem
ganhando espaço e reconhecimento nos locais de entretenimento e shows em toda a
região. Isso porque a dupla traz uma forma peculiar em sua música, na qual
ambas tocam e cantam em uma perfeita sintonia: quem as vê tocar nunca esquece e
logo vira fã.
Brena e Laís já se apresentaram em aberturas de grandes
shows como Maria Gadú, Paula Fernandes e Vanessa da Mata. Também já
participaram, com outros músicos, de projetos como o “Soma 3” e “Êh Crioula!”,
além do trio “Dona Fulô” (projeto junino da dupla).
Mas
agora, o que eram somente acordes e notas tocadas para o prazer do ouvinte
noturno, vai virar CD. O mais novo projeto da dupla, denominado “Pão Francês”,
traz canções autorais e elas prometem: está imperdível! O
lançamento será dia 17 de fevereiro, no Bataclan, em Ilhéus. Nesta “Entre
Vista”, Brena e Laís contam como foi o processo de amadurecimento e realização
do CD, de composição das canções, a trajetória de cada uma e da dupla entre
outras coisas tão essenciais como um... pão francês.
Tacila Mendes - “Pão Francês” é um nome
bastante sugestivo. Por que vocês o escolheram?
Brena: Esse nome surgiu
numa conversa informal entre Laís e eu, onde a gente pensou em montar um novo
“esquema de som”, só que não estávamos encontrando espaços para sustentar uma
banda, sendo que o som de barzinho, para nós, era mais garantia. Então, o nome “Pão Francês” vem mesmo da
questão cotidiana do som que fazemos. É esse som de barzinho que fazemos todos
os fins de semana que “põe o pão na nossa mesa”. E foi por esse motivo que
escolhemos esse nome para o projeto.
Laís: “Pão Francês” veio
da ligação de que como o nosso som é um alimento base, e nunca falta, e o som
de barzinho, bem como o que fazemos, é isso. Só que o projeto tomou proporções
bem maiores e deixou evidenciar também que todo artista de barzinho tem totais
condições de shows autorais e eventos de grande porte, como todo e qualquer
artista.
TM - Vocês faziam parte da banda “Eh
Crioula!”, que integrava mais duas musicistas. Agora, “Brena e Laís” seguem o
trabalho em dupla. Por que abriram mão
do trabalho com a banda?
Brena: A banda foi um
projeto muito bacana, na qual o nosso objetivo era de mostrar o som e a energia
da mulher negra da nossa cidade e do Brasil através da música. Infelizmente,
após apresentações fantásticas das quais temos muito orgulho, percebemos que
não era possível manter uma banda na cidade, sem espaço suficiente para o
estilo da banda além de não haver condições de manter músicos apenas para um
projeto e, diante de tal situação, decidimos dar continuidade e mais atenção ao
trabalho que são as apresentações em barzinhos e eventos. As outras musicistas
seguem também com seus projetos pessoais levando som para onde vão. Mas sabendo
que assim como o Pão Francês, a “Êh Crioula!” também é um projeto e que não tem
prazo de validade e, cujo nome é de autoria de Laís, ela ainda pretende
retomá-lo mais a frente.
Laís: Trabalhar com banda
em nossa região é algo bem complicado. A banda “Êh Crioula!” era um projeto paralelo
a nossas carreiras. Brena já vem se consolidando há tempos no cenário ilheense
como cantora e compositora independente, eu vim de perto e também com esse
formato solo, e nos juntamos, antes disso, com o “Soma3” pra fazer algo
paralelo. Outro fator é a falta de espaço na cidade para aceitação de tantos
artistas independentes. Ou seja, os músicos que trabalham nessa área geralmente
são envolvidos com outros projetos, e isso dificulta um pouco. O fato de
arranjos diferenciados e trabalho de identidade, as coisas acabam ficando
sempre parecidas ou um tanto quanto iguais, e a nossa proposta era de realmente
fazer a diferença, criar identidade sem influência de outros projetos, começar
do zero e pra isso todos teriam que ter o mesmo foco, como não foi o que
aconteceu, abrimos mão disso. Mais de forma consciente, hoje todas continuam em
contato com a música e é isso que importa. No meu caso, como a sugestão do
projeto foi minha, pretendo resgatar esse rótulo em outro momento da minha
vida, e tenho certeza que será lindo também! (Risos) E o “Pão Francês” surgiu
logo em seguida como ideia de projeto paralelo pra nos dar alegrias do início
ao fim, já que se trata de um projeto pra apresentar além de uma parceria, duas
artistas diferentes.
TM - Como foi o processo de composição
das canções do CD Pão Francês? Contém apenas músicas autorais? Vocês duas
compuseram?
Brena: Componho desde os 15
anos, mas venho amadurecendo minhas composições ao longo do tempo. Neste disco,
tem músicas que fiz há mais de seis anos e também músicas compostas no ano
passado. E as músicas vão aparecendo sem aviso prévio, sabe? (Risos)
O
disco, pra mim, foi a forma de gravar em ótima qualidade as canções que eu já
havia composto e queria divulgar. No disco, resolvemos colocar as músicas de
Laís, as minhas, uma parceria, chamada “Nosso som de cada dia” (que inclusive
encabeça o disco), em que contamos através de um blues irreverente o nosso
cotidiano no trabalho nos bares e eventos da cidade e região. E ainda fizemos
uma releitura de uma música de domínio público (cantigas populares), por conta
do público infantil que viemos conquistando em nossas apresentações, e acabou
ficando uma versão para todas as idades... (Risos)
Laís: Como dito sempre por
nós na campanha, o “Pão Francês” é um projeto bem diferente. Trata de duas
temáticas: primeiro celebrar a parceria de duas artistas regionais, e a outra é
tratar no mesmo disco das características solo dessas artistas. Portanto, no
disco temos 11 canções autorais, onde uma delas é em parceria, e foi elaborada
na porta da minha casa em Uruçuca, num dia de descanso, foi saindo livre,
gostamos de algumas palavras e começamos a combinar isso junto com a nossa
própria história. E as outras dividem-se em 5 composições minhas e 5 de Brena,
e ainda uma bônus de domínio público. Nesse processo de composição as músicas
costumam vir simples, tipo um texto, com poucos acordes, depois ao tocar, e
fazer isso por algumas vezes, vem surgindo os arranjos, as ideias e a música
vão crescendo tomando forma... Nossa sou suspeita, adoro e acho isso fantástico!
(Risos)
TM - Pão Francês pode ser definido, pela
natureza das canções, como “Nova MPB”? Que elementos e gêneros serão
trabalhados no CD?
Brena: Exatamente. O disco
se caracteriza como Nova MPB por conta do hibridismo rítmico e harmônico.
Cresci com muitas influências musicais, sempre muitas referências, e não
poderia sair algo muito definido (ou limitado) nas produções, né? O disco está
bem rico em ritmos, arranjos... E por mais que as músicas já existissem para
mim, sempre acabam tendo mudanças, novas idéias... Além disso, Laís e eu nos
deixamos bem livres e abertas para mexer nas músicas de maneira a aperfeiçoar
as canções, deixá-las bem lindas.
O
disco está bem misturado mesmo, tem blues, ijexá, pop, jungle, influências
hispânicas, rock, black music, soul... Enfim, uma infinidade de coisas...hehehe
Uma grande e boa mistura!
Laís: Exatamente. Tem um
pouco de tudo e o que caracteriza a “Nova MPB” é exatamente essa riqueza de
ritmos. Antes um disco seguia uma linha especifica, as músicas tinham arranjos
diferentes, mais seguiam uma tendência. No nosso caso, nenhuma música segue
isso, cada uma tem sua particularidade, segue uma influência. Desprendemo-nos
de tudo e não tivemos problemas em misturar, colocamos todas as efusões de tudo
que escutamos e gostamos em cada canção de modo a ter um conjunto bem
diferente, mas desenhando um pouquinho de nós em cada canção.
TM - Há outros músicos em estúdio? Como
estão sendo essas parcerias durante a gravação, eles colaboram?
Brena: Sendo filha de
Ilhéus. Há muito tempo, venho tocando com os músicos da cidade. Como já tenho
um trabalho de mais de seis anos aqui na cidade, fazendo som por aqui, sempre
tive por perto músicos muito bons e parceiros. E no disco não foi diferente.
Marcos Vasconcelos (o Pop), guitarrista de mão cheia, conheci aos meus 14 anos
quando descobri que ele era meu vizinho, e desde então a parceria foi certa,
sempre me ensinou bastante e sempre foi presença confirmada em todas as minhas
apresentações mais importantes. Com Jorge Rodrigues não foi diferente, também
foi um baixista que conheço há muito tempo e que sempre deixou transbordar uma
sensibilidade sonora e artística muito grande, além disso também participou de
várias apresentações importantíssimas minhas. Paulo Damasceno (PH do Acordeon),
é um sanfoneiro de mão cheia, que tem o forró na veia. Temos uma parceria
sonora desde a época que eu tocava contrabaixo na banda de forró “Severina
Chique” (banda só de meninas onde comecei no cenário musical da cidade). O bluezeiro
Ismera Rock, que conheci na Faculdade fazendo um super som independente com a
banda Mendigos Blues e que sempre foi parceiro em todas as empreitadas as quais
o convidei. O querido Charles Wiliams, um verdadeiro professor, é uma pessoa
que adorei conhecer através de Laís, e
que sempre se mostrou muito parceiro, além de super baterista e tecladista, ele
é produtor musical e foi essencial para as gravações, entrou junto a Cida
Lisboa, com o Studio Brown nos dando todo suporte pra a realização das gravações
do disco.
Colaboração
é o nome dessa equipe maravilhosa, eles acertaram direitinho no que nós
precisávamos. Gravando em tempo recorde, disponibilizando do tempo deles para
ir lá no studio com a gente... enfim, eles foram mais que 10! Só temos a
agradecer imensamente a eles por nos ajudar nesse passo de nossas vidas.
Laís: Sim, a ideia central
do disco era gravar nossas composições inspiradas no som que fazemos em
barzinho. Mas isso cresceu e muito, e as parcerias existiram desde o Studio
Brown, onde gravamos o material. Cida e Charles (proprietários do estúdio)
perceberam desde o início a necessidade de mais atenção as composições e que
talvez a maneira mais simplista fosse fechar os olhos a músicas grandiosas. Mas
inscrevemos o projeto na rede com pouco recurso e sem querer ousar muito, só
que isso foi crescendo, a cada música apresentada e a necessidade de mais
músicos, arranjos e pensamentos maiores tomou conta, e nos levou a contar com
amigos parceiros. Esses músicos participantes do nosso disco, não são apenas
profissionais, são pessoas que também acreditam no nosso som e colaboraram
vestindo a camisa do projeto, atuando também em parceria para viabilizar isso.
Portanto, só temos a agradecer, desde o inicio contamos com muitas pessoas do
bem e dispostas a tornar o “Pão Francês” algo real e que superasse as expectativas,
e tá aí... Essa “lindeza” (Risos)! Estamos maravilhadas e muito felizes com o
resultados, somos de todo, gratidão!
TM - Vocês conseguiram o recurso para
pagar a gravação do CD “Pão Francês”, por meio da plataforma colaborativa “Catarse.me”,
na internet. Como vocês avaliam o resultado?
Brena: O resultado foi mais
que positivo! Tivemos a sensação de que colocar o projeto no ar e tentar seria
um risco, mas nos enganamos maravilhosamente! O projeto teve 100% da
arrecadação pretendida na metade do tempo que o site nos disponibilizou.
Ficamos muito felizes, e percebemos que as pessoas não se fecharam para isso. E
o que nos deixa muito realizadas, é o fato de conseguir mostrar resultados
positivos e, também o fato de incentivar outros artistas da região a projetar
seus trabalhos e mostrar suas produções autorais!
Laís: O “Catarse” foi a
engrenagem essencial, atentamos para essa rede depois de comentários de amigos
e decidimos então elaborar o projeto, sem muita experiência, na preocupação de
não buscar valores inviáveis de serem atingidos recorremos a parcerias, já no
orçamento inicial, onde mais uma vez contamos com o apoio do Studio Brown já
entrou como patrocinador de parte do valor, então conseguimos colocar o projeto
no ar com um valor possível de atingir,
mas claro, absolutamente fora dos valores de mercado. Ainda assim tivemos
despesas posteriores e por isso a correria não parou depois do projeto, o
crescimento do mesmo foi inevitável então até o fim dessa semana estávamos
fechando patrocínio para a finalização do disco de acordo com a proporção que
tomou, tendo como o último patrocinador o Mar Aberto, que assumiu essas
despesas finais como apoiador do nosso trabalho também. De colaboradores, parceiros,
enfim, não temos do que nos queixar, o projeto cresceu, o trabalho ficou maior,
mais também encontramos pessoas que acreditam mesmo no artista local, e que
respeitam bastante nossa batalha e, portanto, acima de todo trabalho tivemos
bastante êxito nas parcerias, somos gratas demais.
TM - O que público pode esperar de “Pão
Francês”?
Brena: Estaremos lançando o
disco no próximo dia 17 de fevereiro, no Bataclan às 19:30h. E, na verdade, o
público pode esperar muitas boas vibrações nesse lançamento. O disco “Pão
Francês” não é um disco comum onde o artista expõe suas obras para serem apenas
apreciadas, o nosso disco propõe participação, pois desde o seu embrião, contou
com a colaboração de todos que acompanham e até os que não conhecem o nosso
trabalho. Portanto, quem for a esse lançamento e quem ouvir esse CD, a gente
espera fazê-lo se sentir parte de cada acorde, de cada arranjo e de cada cor.
Que amem! (Risos)
Laís: Nossa, estamos tendo
um retorno fantástico, colocamos uns aperitivos na rede, 3 músicas, já que o “Pão
Francês” é um disco diferente ele tem 3 músicas de trabalho e não apenas uma!
(Risos) E ainda nos surpreendemos com a receptividade das canções. Portanto,
pelo visto, elas esperam exatamente o que podemos oferecer muita música,
canções autorais com um pouquinho de nós como resultado de muito trabalho, para
encantar cada um dos que estiveram por lá, e dos nossos colabores que esperam
ansiosos pelo disco em suas respectivas recompensas!
TM - Quais são os planos de Brena e Laís
depois de terem “Pão Francês” pronto?
Brena: A gravação desse
disco foi a oportunidade que tivemos de cada cantora e compositora (no caso eu
e Laís) colocar sua cara no trabalho. Cada uma pôs suas composições para ter a
oportunidade de expressar sua identidade musical de forma individual, só que
num disco em parceria. Além disso, a maioria das pessoas que nos veem tocar, veem
sempre as duas juntas. Exatamente por não termos a oportunidade de fazer um
show, cada uma em um lugar aqui, onde o público acaba sendo o mesmo. Não
havendo as possibilidades de sustentar nossos trabalhos solo aqui na cidade,
decidimos fazer essa parceria nos trabalhos em barzinhos, além de adorarmos
tocar juntas. A nossa vontade era de podermos fazer participações nos shows uma
da outra felizes e com frequência, mas infelizmente isso aqui na cidade não
acontece. Pretendemos estar sempre juntas atuando nos projetos culturais,
crescendo cada vez mais com muito trabalho, dedicação e arte, principalmente
arte!
Laís: O “Pão Francês” é um
projeto, então pode durar o tempo que quiser, e conforme o disco mostra, além
da parceria, temos vontade de desenvolver nossas carreiras solo em paralelo a
tudo isso. Estamos pensando também em buscar outros horizontes, tentar algumas
coisas fora da cidade, até mesmo buscar divulgar o trabalho fora do estado, pra
colher alguns frutos disso, e buscar realizar novos projetos, levando a música
como base sempre. Outro caminho que nos interessa bastante, é estudar um pouco
mais para desenvolver projetos que nos possibilitem espalhar ainda mais nosso
som, juntas ou em carreira solo, nossa torcida é mais que recíproca, e o som é
de todos, portanto, os laços são eternos!
Acessem
e confiram mais “Pão Francês” de Brena e Laís!
Site
da dupla:
Tacila Mendes, 26 anos, é comunicóloga e especialista em Audiovisual pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Além de fotografar e dar aulas nesta área, se envereda pela produção cultural da região, escrevendo projetos para captação de recursos e trabalhando também como assessora de imprensa. Fez parte da equipe da 1ª e da 2ª MUSA – Mostra Universitária Salobrinho de Audiovisual; do projeto Afrofilisminogravura; do 1º Festival de Cinema Baiano - FECIBA; o Bahia Sound System e do Memórias do rio Cachoeira.
Gosta também de cantar e faz parte do projeto "Mulheres em Domínio Público", do qual é uma das quatro intérpretes. Foi eleita Conselheira Municipal de Cultura de Ilhéus no setor de Audiovisual (2011).
Como gosta de conhecer gente, seus estilos e formas de pensar, lugares e tudo que lhe parece diferente e interessante, propõe um papo "Entre Vistas" a fim de descortinar esses mundos...
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