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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O naufrágio do Yate Itacaré - por ALFREDO AMORIM


Na manhã do dia 23 de agosto de 1939, ao tentar entra na barra de Ilhéus, o iate Itacaré, da empresa Policultora, foi açoitado por enormes vagalhões e emborcou completamente ficando com o casco virado para cima.

A catástrofe foi presenciada por pessoas que se encontravam na Avenida Soares Lopes e a notícia correu rapidamente pela cidade.

Em meio às ondas eram vistos os destroços do iate e náufragos tentando salvar-se. Canoas, lanchas, barcos e saveiros saíram do Pontal para salvar as vítimas, o comércio fechou as portas e verdadeiras multidões se formaram na Avenida e nos morros da cidade para acompanhar as cenas da catástrofe.

Às dez horas as turmas de salvamento trouxeram os primeiros mortos e sobreviventes. Todos os médicos da cidade mobilizaram-se para atender as vítimas no Ilhéus Hotel, Farmácia Central, Hospital São José e Casa de Saúde São Jorge. A lista de passageiros não era conhecida e os boatos mais desencontrados intranqüilizavam a população.

A pedido do Prefeito Mário Pessoa a Secretaria de Segurança Pública transmitiu a lista dos passageiros pelo rádio: viajavam no Itacaré   47 passageiros e 22 tripulantes. Os mortos eram transportados para o edifício do antigo Hotel Coelho, na Praça Luis Viana, hoje Praça Dom Eduardo, em frente ao Cine Teatro Ilhéus, muitas pessoas que na hora do naufrágio se encontravam nos camarotes, não conseguiram sair e ficaram trancadas sem poder se retirar. As equipes de salvamento tentavam desesperadamente cortar o casco do navio com marretas e maçaricos sem conseguir, no final da tarde quatro pessoas conseguiram sair pelas vigias, entre elas o Tenente Efigênio Matos e a professora Maria Joana de Souza.

A família Badaró socorreu seis náufragos em sua residência no morro de Pernambuco. O comandante do Itacaré, Carlos José Oliveira e o comissário de bordo, Gregório, foram conduzidos para a residência de Arquimedes Amazonas, no Pontal. À noite se ouvia do morro de Pernambuco os pedidos de socorro das pessoas que se encontravam, presas no casco do iate submerso. Às 10 horas da manhã do dia 24 foram sepultados, no Cemitério da Vitória, os corpos de doze vítimas da catástrofe, entre elas cinco filhos do casal José e Alexandrina Pinheiro, que perderam no naufrágio onze filhos, seis morreram presos dentro do navio.
           
O total de vítimas do naufrágio chegou a trinta pessoas, entre passageiros e tripulantes. Entre as vítimas estavam o Tenente Otto do Nascimento Rhem e o Cônego Joaquim Diamantino, vigário da Paróquia de Catú.
           
O naufrágio do Itacaré, por causa da grande tragédia que foi, repercutiu em todo o país e causou revolta na população de Ilhéus contra a firma que agenciava o iate, acusada de negligência e irresponsabilidade. A opinião geral apontava a falta de lastro como causa principal da catástrofe, dizia-se que na viagem anterior para Salvador o iate viajara sem lastro a fim de levar um volume maior de carga e que, na volta, mais leve, sem estabilidade suficiente, virou ao impacto das ondas na entrada da barra.
           
Foram apontados como responsáveis pela catástrofe o Comandante do iate, o armador e o prático da barra de Ilhéus. Dois anos depois os acusados foram inocentados pelo Tribunal Marítimo do Rio de Janeiro.
           
No dia 26 deveria se realizar a “Passeata do Silêncio”, da Praça Firmino Amaral até o Cemitério da Vitória, a manifestação foi proibida pela Secretaria de Segurança Pública, com medo de retaliações, tanto que soldados guardavam o edifício onde funcionava a firma Correia Ribeiro & Cia., agente do Itacaré. 
           
Um dos grandes heróis do naufrágio foi o ilheense Waldemar (Vavá) Virolli, ex-marinheiro, que ganhou uma medalha de Honra ao Mérito, medalha de ouro, num programa da Radio Nacional do Rio de janeiro, que homenageava os autores de grandes façanhas, por causa dos salvamentos que fez, Waldemar era uma grande figura, morava na Fonte da Cruz, baixinho, bebia demais, um dos seus divertimentos era nadar até a pedra do rapa.
           
A Cruzada do Bem pelo Bem organizou uma campanha de ajuda aos sobreviventes do naufrágio e a família Badaró mandou construir um cruzeiro no morro de Pernambuco, na entrada da barra, em frente ao local do naufrágio.

 

Alfredo Amorim é ilheense nascido e criado nessas terras, membro do Instituto Histórico de Ilhéus e observador atento das ruas da cidade.





fonte da imagem: http://aculturadagente.blogspot.com.br/2011/06/o-fim-do-itacare.html 


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