No fim das contas assim devemos levar a vida. Amar, sem
medidas, sem cobranças, amar pelo amor e pela felicidade que o sentimento te
pode trazer, sem preocupar-se, sem tornar isso um fardo, por mais difícil de
seja. Amar não a projeção de nós mesmos se não o real, o verdadeiro, o que se
recebe de volta. Essa deve ser a busca final, não a tentativa inútil de emular
o nosso sentimento no coração do outro simplesmente porque sentimos, e sim
transformar o coração a partir do que se sente. Assim que meu coração se
transforma em amor ele é capaz de tocar, reverberar. É para isso que vivo, no
fim das contas. É o aprendizado da angústia, da dor, do desprendimento maior
apesar de todos os meus desejos pessoais.
Eu não controlo nada além do que eu sinto, e apesar de isso me doer todos os dias, a cada hora que tomo consciência dessa pequena frase ela me dói um pouco menos. Eu não posso controlar nada que esteja fora do meu corpo, fora da minha cabeça, fora da minha alma, pros que crêem em uma. É simplesmente não ver e não aceitar romantizar excessivamente as relações, não torná-las aventuras líricas na minha mente se distanciando do real. Eu sou, vejo agora, alimentado pelo que eu sinto. Não posso viver de reações que me foram dadas.
E meu esforço diário vive nisso: Em viver das compreensões, a viver do meu entendimento. E não é que isso me livre de doer, de sentir. Isso me faz sentir dor, sim. Muito mais do que se eu encarasse normalmente, pelo esforço íntimo em fazer-me real, em pisar com segurança nesse terreno escuro, a tocar com cuidado nas minhas cicatrizes e nas minhas feridas internas. É interessante entorpecer-se de ilusão e aceitar as reações. Viver na ilusão por muito tempo me enlouqueceria. E esforçar-me pelo real comigo mesmo faz valer cada momento que o real reverbera de volta.
Pedro Paulo escritor, pensador nas horas vagas e poeta quando a inspiração vem. Nasceu no Rio, viveu catorze anos na Bahia e agora vive em Montevidéu, no Uruguai. Seu blog pessoal é o www.pedropaulo.blogspot.com
fonte da imagem: http://murilodeandrade.blogspot.com.br/2010/06/vermelho-sangue.html
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