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domingo, 18 de março de 2012

A Natureza dos caminhos. (Para ler ouvindo Explosions in the Sky - It's Natural to be Afraid) - por PEDRO PAULO

Talvez a flor que carregasse não fosse pra ele, mas sim, tivesse outro destino. Talvez a luz que guardasse em si tivesse a voz. O sentido sentido e percebido, que vai muito além do que imagina. A vida toda - até então - sem saber como lidar com o jardim dos outros, da idealização dos seus desejos. Sem que prestasse atenção, sem que percebesse, sem que notasse. De repente era isso. A aflição que sentia, que seu corpo sentia, que a fazia vibrar estava ligada à toda atenção que seu corpo a fazia voltar para si mesma. 


Para si mesma. Para si. E assim repetia. De repente olhou-se no espelho, frente à frente às suas idealizações. Frente à sua busca cega. Tudo que poderia - e deveria naquele momento, digo isso num ato de julgamento meu - era olhar pra si. Nessa hora ergueu seus olhos em espanto ao olhar-se no espelho. Não era mais seu simulacro, não era mais seus pequenos truques. Nos momentos de silêncio, quando não temos ninguém olhando, quando todos estão longe, é que o corpo nos avisa vibrando que precisamos lidar com o que tem de mais íntimo dentro de si. 

Ela olhou pra dentro e se viu. Por um breve momento fez-se espanto, e por outro breve momento foi premiada com a sua própria carne misturada às emoções. Não conteve a si. Comoveu-se. Seu lindo jardim, seus nenúfares, seus jasmins, suas pequenas flores brejeiras crescendo sem cuidado. Percebeu que precisava - sim, era uma necessidade tal qual a de respirar - tocar lá dentro. Ver-se gera um espanto sem resposta, sem ação. Tocar-se é o momento íntimo. Tocar-se é dizer pra si mesmo que o que há ali será cuidado. 

Tocar é permitir que seu jardim seja, por aquele breve e significativo momento, cuidado pela única pessoa capaz de fazê-lo real e de mostrá-lo a quem o mereça - mais que a permissão de ver, que nos é concedida ao pensar, o merecimento de apreciá-la. Começou ali, a entender. E do espanto se fez a comoção. Movia-se, emocionada, soluçava. Sem palavras. Entendendo finalmente o valor dos sinais do seu corpo e do vasto mundo que se abria ao voltar à sua mente à sua alma, ao seu âmago, à si.

Daí em diante foi trilhar outros caminhos. Momentos de contato consigo mesmo sempre trazem reflexão. Sempre indicam novos rumos, ensinam novos caminhos e ampliam as possíveis perspectivas. A vida é feita disso, à todo momento. Você pode se perder dentro de si mesmo, e ir abrindo portas que te façam circular e circular. Ou você pode trilhar caminhos novos. A vida está sempre aberta. Desde que estejamos alertas.



Pedro Paulo é estudante, escritor, pensador nas horas vagas e poeta quando a inspiração vem. Há 14 anos vive na Bahia, terra que o inspira e onde nasceram seus primeiros versos. Escreve atualmente no blog www.pedropaulo.blogspot.com