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terça-feira, 27 de março de 2012

O reggae profético de Nengo Vieira - pro LUCIANO CERQUEIRA

Djalma Ramos Vieira, conhecido como Nengo Vieira, nasceu na Cidade de Cachoeira, situada no recôncavo baiano, lugar onde também nasceu outro grande expoente do reggae nacional, Edson Gomes. A música sempre esteve presente em sua vida e desde cedo passou a tocar em bailes, acompanhando vários artistas a exemplo de Tribo de Jah, Edson Gomes, Lazzo, dentre outros. Junto com a paixão pela música, herdou o amor pelo reggae e adotou o estilo rasta quando conheceu o som de Bob.
Nesta mesma época, passou a usar a ganja. Sua carreira solo “decolou” com o som roots que o consagrou e, tal como Edson Gomes, se apresentava como sua “assinatura musical”. Seu reggae sempre teve uma forte temática religiosa, e como viria a definir mais tarde, “evangelizadora”.
Nengo faz parte da crescente e renovada  galera das artes que converteu-se ao evangelho e, sem abandonar a carreira mas dando à mesma uma repaginada e uma nova roupagem, abraçou uma religião, ingressou em uma igreja e partiu para dar seu testemunho através da música que o consagrou outrora e arrebatou uma legião de fãs, quando ainda era um “pecador inveterado”. O “Nengo”, convertido e pregador,  permanece atento e questionador; sua voz não se calou, nem seu coração mudou o discurso. Ele ainda fala do sofrimento do homem, escravizado e diminuído pelos seus pares; da destruição da natureza, da fome de justiça e da miséria moral.
 
Nengo é coerente e verdadeiro! Não colocou, simplesmente, uma Bíblia embaixo do braço e saiu por aí alardeando a sua salvação e envaidecendo-se de sua conversão enquanto condenava todos os demais “infiéis” ao fogo eterno. Sua inquietação e seu compromisso já eram sentidos no forte apelo profético de suas letras, desde a primeira banda, “Remanescentes”, lá no início de sua carreira. O “cara” sempre levou a sério a responsabilidade de sua mensagem e, quem antes curtia seu som, não viu sectarismo nem exageros em sua versão “crente”; ele continua sendo a voz dos excluídos e JAH continua sendo o seu ideal.
A conversão do “irmãozinho” deu, com certeza, um upgrade em sua vida e no seu som. O “figuraço” deixou de pitar kaya-erva-danada - e isso, sem dúvida alguma, é massa, tudo de bom, saúde e responsabilidade; provando que pra fazer um bom reggae não precisa jogar fumaça pra dentro da mente, temos sim, que tirar a “fumaça” que embaça a nossa consciência e obstrui a nossa visão do mundo, impedindo-nos de identificar as safadezas, os safados, seus comparsas e seus capachos. Temos sim, que botar pra fora a “fumaça” que nos engasga e emudece, para que possamos gritar, sempre e claro, denunciando as mazelas sociais e suas violências, a corrupção e os seus corruptores.
“Nengo continua sendo Nengo” e JAH continua abençoando seu trabalho e falando através de sua música.  Que Jah abençoe nossa semana e todas as pessoas que amamos. JAH bless.