Em 2012,
comemoramos o centenário dos nascimentos de Jorge Amado, Luiz Gonzaga e Nelson
Rodrigues. Há 30 anos sobrevivemos sem Elis e as Águas de Março, neste ano, fecharam o quadragésimo verão. Mas, hoje não quero
comemorar nada disso. Escolhi vibrar e transcender ao som de outro time.
Acabou Chorare completa 40 anos em 2012 e é sempre tempo de
curtir Novos Baianos, o grupo/movimento que sacudiu o mundo definitivamente com sua
irreverência. Curto, venero e não me canso de aplaudir Baby, Boca de Cantor,
Pepeu, Morais Moreira... Não foi a toa que a Rolling
Stones Brasil elegeu o álbum
como o maior
disco brasileiro do século passado. Como Gabriela, Cravo e Canela está para Jorge Amado, Acabou Chorare está para Novos Baianos. A
obra que completa 40 anos em 2012 representa uma esquina em cores na produção
musical brasileira e precisamos comemorar.
Cosmopolita, o
álbum é um convite à experimentação. Ensina que ousar é preciso e faz isso de
modo tão belo ao ponto de levar-nos a crer que respiramos pelos ouvidos quando
o escutamos. Esses jovens audaciosos peitaram o Brasil “careta” dos anos 70 com
extrema originalidade, o segundo disco do grupo propõe uma transformação
radical, uma guinada rumo à liberdade de expressão, de pensamento, de
sentimento.
Com fortes
influências tropicalistas, Acabou Chorare
brinca com todos os elementos que compõem o som, em especial, ritmos e
melodias, explorando ao máximo os instrumentos de corda acústicos e elétricos.
Os acústicos, típicos na história da MPB, volta e meia surpreendem e aparecem
com uma pegada Rock´n Roll deliciosa.
Abusa da antropofagia cultural, come tudo o que há de mais brilhante na MPB até
então, mistura com as tendências hasteadas por João
Gilberto, e, através desse processo “tropicalizante”, transforma-se em
grande sintetizadora da brasilidade que só brasileiro sabe qual é.
De tão elaboradas,
poucos são os músicos que topam reproduzir tais canções, principalmente as mais
alternativas como Mistério do Planeta e Um bilhete para Didi.
Eu, por exemplo, só conhecia Preta Pretinha, mas fui convidada a cantar A Menina Dança por
meu grande amigo Marcos
Oliveira e tudo mudou, a esquina colorida enfeitou a minha estrada com uma
tinta que não desbota nunca.
Até hoje, os Novos Baianos e suas canções vivem.
Imortais, invadem as mentes de todos os que reconhecem a importância do novo
que aprimora o antigo, aquele que relê, refaz, repagina. A juventude baiana
atual, educada musicalmente pelo pop, funk, arrocha e pagode, certamente cairia
de boca neste som se tivesse a oportunidade de conhecê-lo.
Quem não sente o corpo pulsar excitado quando “A menina dança”? Ou já tentou desvendar “O Mistério do Planeta”? Quem não se sente em meio a uma mata densa e silenciosa enquanto observa a “abelha, abelhinha”? Quem nunca marcou toca, tinindo, trincando e tudo mais? Eu já fui todas essas baianas e me dou o direito de voltar a ser sempre que a vida andar tediosa. Além do mais, não podemos nos esquecer de que tais BAIANOS permanecerão NOVOS, estarão sempre acompanhados de um artigo DEFINIDO e PLURAL. São Baianos de cantar inconfundível, criação brilhante, multifacetados, multicoloridos, eternamente livres... Os Novos.
Quem não sente o corpo pulsar excitado quando “A menina dança”? Ou já tentou desvendar “O Mistério do Planeta”? Quem não se sente em meio a uma mata densa e silenciosa enquanto observa a “abelha, abelhinha”? Quem nunca marcou toca, tinindo, trincando e tudo mais? Eu já fui todas essas baianas e me dou o direito de voltar a ser sempre que a vida andar tediosa. Além do mais, não podemos nos esquecer de que tais BAIANOS permanecerão NOVOS, estarão sempre acompanhados de um artigo DEFINIDO e PLURAL. São Baianos de cantar inconfundível, criação brilhante, multifacetados, multicoloridos, eternamente livres... Os Novos.
“Esotericamente saídas da boca de uma criança [Bebel
Gilberto], tais palavras nos mostravam que chegara a hora de acabar com o
choro. Tínhamos lacrimejado demais. Queríamos o Brasil alegre de volta." Baby do Brasil
Eloah Monteiro, 24 anos, é cantora, atriz, baiana e jornalista.