Kelly Watch The Stars - por RODRIGO MELO

Era um céu escuro e carregado de nuvens e de um vento frio que entrava pelas frestas da janela. No telhado, a água caía, fazendo música. Nas ruas, quase nenhuma vida a não ser a de um ou outro carro que vagarosamente passava, os faróis altos, a jogar para cima do passeio a água que se acumulava nos bueiros.

Ele conferiu as horas no celular. Iria embora tão logo a chuva passasse. Sentado no sofá, olhou para o piso branco e frio e pensou que não gostava de pisos claros. Olhou para as paredes azuis, para a estante e para o vaso com uma rosa murcha dentro. Calculou que é na intimidade que as diferenças surgem. Estirou as pernas, jogou a cabeça numa almofada e fechou os olhos.

- Ta zangado? Ela perguntou, parada na porta da cozinha.

Vestia uma enorme camiseta com os dizeres Kelly watch the stars e tinha um rosto bonito, embora triste, os olhos distantes e perdidos. 

- Zangado com o quê?

- Não sei, com as coisas que falei.

- Você não tem culpa.

- Não – ela disse e tentou sorrir.

Olhando para ela, lembrou que se parecia realmente com a imagem do quadro na sala e pensou em finalmente perguntar se era mesmo ela e quem a havia pintado, mas por algum motivo não perguntou.  Achara o quadro mais bonito da primeira vez em que o viu e agora não fazia tanta diferença saber. 

Do outro lado da vidraça, a chuva continuava a cair.  Ele se levantou e caminhou até ela, abraçando-a.

- Só não quero que você mude - ela falou.

- Não vou mudar.

- Promete?

- Prometo.

Ela então começou a chorar, encostando a cabeça no ombro dele. Ele a abraçou mais forte, enquanto alisava seus cabelos, suas costas. Pensou que ela não era má, que realmente não tinha culpa e que ele sempre se sentira um tanto perdido também.  E pensou ainda que a qualquer instante aquela chuva iria passar.

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Rodrigo Melo é filho de Eduardo e Márcia, irmão de Juliano e Murilo, casado com Thalita, pai de Amaralina, uma menina linda, e é também brodão de Diná e Brooks, que joga umas danças por aí. Além disso, escreve uma coluna, blablablá, no diário de ilhéus, quase todos os sábados. 








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