“No palco da vida, a vida no palco”
Anônimo
As cortinas
estão fechadas e os atores estão em polvorosa no palco. Correm de um lado a
outro, ainda decorando seus papéis, declamando seus versos, memorizando suas
marcações (é que neste tipo de espetáculo a gente tem que saber exatamente onde
pisa). Foi dado o primeiro, o segundo e agora falta pouco para que o terceiro
sinal assinalasse o início da peça.
Na verdade, a
peça já tinha começado. É que ela começa nos ensaios. E os ensaios já estão nos
muros do palco, com seus largos slogans, ora esdrúxulos, ora cômicos ou até
mesmo filosóficos. Difícil não perceber, principalmente quando se compara
bichos com homens e confundem-se estes daqueles. Há ainda os que dizem que a
hora é essa, já que muitos já tiveram sua hora e por isso mesmo eles precisam
ter a deles.
Ah, esses
atores são engraçados. Falam uns dos outros, se inflamam com pouca coisa, acham
que sabem tudo e sempre respondem que “ensaiar, pra quê? O texto já está
decorado, o resto é repetição. A platéia não sabe mesmo quando a gente erra. É
só improvisar e pimba!” E vão levando na mesma canastrice de sempre. Culpa do
diretor. Por quê, não? Quem é que escolhe os atores para os personagens? Quem é
que os coloca lá para recitar seus poemas? Se o ator falha, falha o diretor, o
iluminador, a sonoplastia, etc.
Terceiro
sinal. Cortinas abertas. Essa peça tem tantos atores que fica difícil saber
quem é quem. Em cena: médicos, advogados, dentistas, professores, aposentados,
pescadores, jornalistas, radialistas, bademeiros, padres, pastores... E é
tanto, mais tanto, que a gente não sabe quem prestar mais atenção. E o pior é
que a gente vai ter que escolher o melhor (ou os melhores).
Durante essa
curta temporada, muitos vão perceber que subiram no palco errado; outros irão
se juntar; outros ainda ficarão apenas nos ensaios; outros pensaram a vida toda
que são atores; e tem aqueles que na ânsia de ser escolhido atiram pra tudo
quanto é lado, deixando apenas os estampidos. Mas, deixemos estas analogias de
lado e vejamos as dificuldades da produção. Como eu disse a peça começou muito
antes das cortinas se abrirem, por isso mesmo merece algumas considerações:
Patrocínio. O
espetáculo é patrocinado por um grupo. Só que o grupo não poderá bancar todos
os atores. Assim, os atores terão que arranjar outros patrocínios para
sobreviverem durante a pré-temporada. É que quem passa por ela é patrocinado
por quatro anos. E quantos desses atores têm condições de conseguir recursos
para se manter? Um pedaço de papel, escrito a lápis, não convence patrocinador.
Projeto. Projeto
bonito, sem fundamentação, muito menos. Como ser produtor, sem ser oportunista?
Como ser produtor sem ter recursos? Como obter recursos, sem ser produtor? É
preciso convencer, para ser financiado, porque, amigos, nessas horas são
poucos. Todavia, tudo isso ainda existe o fator sorte. E é esse fator que
muitas vezes colocam aqueles que pensam que são atores, entre os centenas da
longa temporada. E aí, sim, eles podem dizer: agora é minha vez!
Os atores de
plantão que me perdoem, mas, tenho pena da platéia que, muitas vezes é forçada
a assistir esses atores em cena e engolir suas verborragias, promessas, sonhos,
projetos etc., como se eles fossem mesmo capazes de fazê-lo. Deviam pelo menos
ler a peça antes para ver do que se trata. Já que muitos entram em cena sem nem
ao menos entender a trama direito. E saem de cena, sem até mesmo, lembrar da
personagem que interpretou.
Pensem duas
vezes antes de comprar o ingresso (muitos chamam de voto!). E, como não tem
jeito mesmo, comprem sabendo que vai valer a pena. Mesmo que seja para o
coletivo. Já que, geralmente, só pensamos no texto que o ator poderia recitar
para nós e, de fato, o elenco só poderá ser trocado daqui a quatro anos outra
vez.
______________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário