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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Teatro e Educação Ambiental: Formar atitudes ou construir conceitos? - por BOB MONTELEONE


Fragmentos da Monografia “Teatro e Educação Ambiental: expectativas renovadoras”

“Determinada pessoa pode cultivar uma atitude ecológica, mas, por vários motivos, seguir mantendo hábitos e comportamentos nem sempre em conformidade com esses ideais.” (Cf. Carvalho, 2004, p.178)

Esse é um grande impasse que não ocorre só na EA: Procurar aliar atitude e comportamento.


No caso do teatro-educação, procuramos sensibilizar o aluno quanto à teia de relações que envolvem o ambiente que nos circunda, em que estão envolvidas nossas práticas individuais, situando-o frente às questões levantadas no cotidiano de cada participante, desenvolvendo uma percepção quanto à necessidade de atitudes ecológicas, levando-os sempre a assumir um papel que não é só do poder público, e sim de todos. Visando com isso uma percepção mais aguçada do ambiente que os circundam, quer seja a escola, as ruas da cidade, as praças, ou até mesmo seus lares, contribuindo assim, para uma mudança em suas atitudes e comportamentos.

 “A pesquisa do Instituto Ecoar (Trajber e Manzochi, 1996) sobre os materiais impressos no Brasil demonstra como as escolhas entre enfatizar o comportamento ou o engajamento do sujeito em ações cidadãs no campo ambiental se refletem na produção escrita desse campo. A analise realizada pela lingüista Eni Orlandi nesse estudo alertou para os aspectos imediatistas e doutrinários, que acarretam o fechamento do discurso, de uma EA pautada por pressupostos comportamentais. Orlandi destacou ainda o silêncio dessa EA sobre a produção social dos problemas ecológicos e sua tendência a culpabilizar os indivíduos, como se todos fossem igualmente responsáveis pelos efeitos da degradação ambiental.” Cf. TRABJER, Rachel; MANZOCHI, Lucia Helena. Avaliando a Educação Ambiental no Brasil: materiais impressos. In: CARVALHO. Isabel C. de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo, Cortez, 2004, p. 184

Partindo desse pressuposto, nos preocupamos com a formação de sujeitos ‘politizados’, capazes de agir criticamente na sociedade, durante as relações de aprendizagem; ou conforme Isabel de Carvalho, “desnaturalizar”, como um exercício de trocar as lentes, passando a enxergar as mesmas paisagens com olhos diferentes. (Cf. Carvalho, 2004, p. 34)

Essa troca de lentes é possível através do teatro, pois os diferentes pontos de vista e as diferentes leituras e respostas nos exercícios propostos é que diferenciam o processo de aprendizagem, buscando sempre diferentes formas de interagir criativamente, provocando novas compreensões nessas relações, fazendo questionamentos acerca de idéias descontextualizadas e concepções comodistas, instigando, assim, o pensamento crítico referente aos problemas ambientais.

Comparando-se a EA contemporânea com o processo teatral é que percebemos as possibilidades de mudanças tanto na esfera do coletivo quanto no individual, pois com a abertura de um espaço para se discutir e abordar de forma crítica as questões levantadas é possível correlacionar a apreensão do conhecimento com a complexidade das questões socioambientais da localidade, pois os mais divergentes pontos de vista serão explicitados na esfera do ficcional, possibilitando um melhor entendimento através do fazer teatral.

CARVALHO, Isabel C. de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo, Cortez Editora, 2004.

RODRIGUES, Robert Alexandre.Teatro e Educação Ambiental: expectativas renovadoras. São Paulo, 2004. 60 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Artes Cênicas) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.




Bob Monteleone, é licenciado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicação e Artes da USP, pós graduado em Docência no Ensino Superior de Turismo, Hotelaria e Lazer-SENAC, professor, diretor teatral e educador ambiental. Ministra cursos e oficinas de teatro por toda região sul baiana. 

Todas as semanas ele escreve sobre Teatro Educação aqui no EUVEJOARTE.blogspot.com  



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