A
mímica é, além do mais, “no teatro, o lugar onde se diz, de maneira mais clara,
a reflexividade do discurso produzido pelo ator, que não só diz a fala-ato, mas
diz que a diz.”
Ubersfeld
A
pantomima antiga era a “representação e a audição de tudo o que se imita, tanto
pela voz, como pelo gesto: pantomima náutica, acrobática, eqüestre; procissões,
carnavais, triunfos etc.” De acordo com Patrice Pavis, no final do século I
a.C., em Roma, a pantomima separa texto e gesto, o ator mima cenas comentadas
pelo coro e pelos músicos. A Commedia dell´arte usa tipos populares que falam e
se exprimem através de lazzis. O lazzi é uma expressão da Commedia dell´arte.
Trata-se de um elemento mímico ou improvisado pelo ator que serve para
caracterizar comicamente a personagem (na origem Arlequim). Contorções, rictus,
caretas, comportamentos burlescos e clownescos, intermináveis jogos de cena são
seus ingredientes básicos.
Pois
bem, a pantomima tem sua época áurea nos séculos XVIII e XIX: arlequinadas e
paradas, jogo não-verbal (cenas mudas) dos atores de feira, que reintroduzem a
palavra através de subterfúgios engraçados. Para Pavis, hoje, a pantomima não
usa mais a palavra. Tornou-se um espetáculo composto unicamente dos gestos do
comediante. Próxima da anedota ou da história contada através dos recursos
teatrais, a pantomima é uma arte independente, mas também um componente de toda
representação teatral, particularmente dos espetáculos que exteriorizam ao máximo
o jogo dos atores e facilitam a produção de jogos de cena ou quadros vivos.
Ainda
consultando o dicionário de Pavis, ele narra que a pantomima “sem palavras” dos
atores da feira utilizava cartazes para contornar a proibição do uso da
palavra. A partir da segunda metade do século XVIII, com Diderot e sua
exigência de realismo cênico, apóia-se ao “homem de gênio que saiba combinar a
pantomima com o discurso, entremear uma cena falada com uma cena muda (...) A
pantomima é parte do drama.”
Muita
gente confunde pantomima com mímica. Na Era Clássica, a mímica compreende ao
mesmo tempo a linguagem por gestos e as atitudes do rosto. O uso atual da
palavra diz respeito sobretudo aos jogos de fisionomia ou expressão facial.
Estes jogos têm uma função paraverbal para sublinhar ou distanciar um enunciado
verbal, fazer notar uma reação psicológica a um estímulo, comunicar uma
mensagem pelo olhar, a “careta”, a contração ou o relaxamento de um ou vários
músculos faciais, a contradição entre o olhar e a boca.
A
mímica é, além do mais, “no teatro, o lugar onde se diz, de maneira mais clara,
a reflexividade do discurso produzido pelo ator, que não só diz a fala-ato, mas
diz que a diz.”
Pantomima
ou Mímica, ambas têm como princípio o gesto. E o gesto, para Diderot, nada mais
é do que o “movimento exterior do corpo e do rosto, uma das primeiras
expressões dadas ao homem pela natureza.”
Pawlo Cidade é escritor, crítico literário dramaturgo, diretor de teatro e membro da Academia de Letras de Ilhéus.
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