A preparação do elenco
para o espetáculo 1789 – Engenho de
Santana – Uma Revolução Histórica segue a todo vapor. Após as pesquisas
históricas, através de encontros com especialistas sobre a Ilhéus colonial, no
projeto de debates Improviso, Oxente!
os atores, atrizes e músicos do Teatro Popular de Ilhéus (TPI) imergem cada vez
mais na atmosfera da revolução dos escravos. O grupo ensaia quatro vezes por
semana, às segundas e quartas-feiras na Casa dos Artistas e às terças e
quintas-feiras no Terreiro Matamba Tombenci Neto.
O último Improviso, Oxente! foi com o historiador
Marcelo Henrique Dias, que trouxe fragmentos da carta de reivindicações escrita
por Gregório Luis, líder dos escravos do Engenho de Santana, em 1789. O
documento apresenta 19 exigências para negociações. “É um dos poucos
testemunhos escritos pela pena de um escravo”, destacou o pesquisador. O doutor
em História também exibiu e comentou algumas correspondências de padres jesuítas
que passaram pelo Engenho e descreviam o dia a dia do local.
Segundo os documentos, os
escravos do Engenho de Santana viviam a relação de trabalho chamada de “brecha
camponesa”. Esse sistema permitia certa autonomia aos cativos, que dispunham de
lotes de terra para plantações de próprio consumo e comercialização. “Era um
incentivo para que continuassem trabalhando”, explicou Dias.
O elenco já iniciou o
processo de criação dos mondrongos,
técnica utilizada pelo TPI como uma deformação da realidade. Em função isso, os
artistas tentam equilibrar pedrinhas imaginárias no pescoço, cotovelos e
joelhos. “Para que o público veja a realidade, é preciso que os atores se
deformem”, explica o autor e diretor Romualdo Lisboa.
A palavra mondrongo é
definida pelos dicionários como “monstrengo; pessoa deformada” e aparece no
poema Iararana, de Sosígenes Costa.
Ele descreve o “bicho mondrongo” como a visão dos índios sobre os colonizadores
europeus.
Além
de criarem seus personagens disformes, o elenco também participa de
experimentações de dança e música afro com o Grupo Afro Cultural Dilazenze e
Orquestra Afro Gongombia, ambos ligados ao Terreiro Matamba Tombenci Neto. O
autor do espetáculo também não está perdendo tempo e aproveita a inspiração do
processo criativo dos artistas para escrever o texto, que ganha suas primeiras
dezenas de páginas. A peça foi uma das contempladas pelo edital setorial de teatro do
Fundo de Cultura da Bahia e deve estrear em março de 2013.
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