Início

sábado, 15 de dezembro de 2012

O que foi a Segunda Palhasseata - por ED PAIXÃO

foto: Karoline Vital

No dia 8 de dezembro de 2012 a cidade de Ilhéus acordou diferente. Uns bandos de palhaços invadiram as ruas do comércio do centro da cidade em comemoração ao dia mundial do Palhaço que é celebrado oficialmente no dia 10 de dezembro. Em momentos em que vivemos a mercê de tanta violência, ver um movimento como uma passeata de palhaços é uma luz no fim do túnel. Um verdadeiro festival de cores tomou conta das ruas mandando a lama e a sujeira da má administração pública local embora, mesmo que temporariamente, entretanto naquele momento o riso se fez presente. As pessoas se aglomeravam nas portas das lojas para verem a marcha passando. Palhaços, alegres, festeiros, brincavam com todos, contagiando os presentes com uma onda de energia positiva e vibrante.


“O palhaço é o nosso fracasso, é aquilo que temos vergonha de mostrar, porque é expor a nossa fragilidade e por isso nós gostamos desse ser cômico pela coragem que ele tem em ser ele mesmo, sem tabus ou barreiras impostas pela sociedade. Nós rimos dele, justamente por ele ser quem é... tonto, bobo, ridículo” ressalta a professora e atriz Malu Mendes. Mandar a tristeza para longe não é uma tarefa simples, principalmente quando essa tristeza vem enraizada com marcas profundas, cicatrizes difíceis de serem curadas, porém a simples presença de um palhaço pode mudar todo o clima de um ambiente, deixá-lo mais colorido inclusive em ambientes bastante inusitados como um velório por exemplo. Eu, aqueles que vos escreve, vejo o palhaço não como tonto, mas como o mais sábio de todos os seres. Ele se faz de doido para receber os chicotes da sociedade, enquanto na verdade ele está protegendo os outros ao seu redor de uma triste realidade, usando a si próprio como imã. Sendo motivo de riso para instaurar a paz. Grandes exemplos disso são visíveis no cinema em filmes como “A vida é bela”, onde um palhaço luta para manter o filho sempre alegre em meio ao holocausto em que eles vivem na Segunda Guerra Mundial. Chaplin e demais palhaços do cinema também vão defender essa mesma filosofia.

Alguns possivelmente demorarão a entender um movimento como esse, pela complexidade em que ele está inserido. São palhaços? Vão fazer o quê? Palhaçadas? Novamente repito, palhaço nenhum tem obrigação de fazer as pessoas rirem. Essa não é a função do palhaço. Ser palhaço é está entre uma fina linha entre o certo e o errado, entre a autoridade e a rebeldia, é nesse contexto que ele existe como idiota, paspalho, palhaço e etc. Ele deve se preocupar antes de qualquer coisa com sua arte, com seu poder de articulação, de transformação no meio onde ele estiver inserido. Então a palhasseata proposta pelo Grupo Teatral Maktub é um movimento artístico para contemplação dessa figura, o palhaço, ou deus da Alegria - Independente de ser Baco da mitologia grega ou Bes da mitologia Egípcia, um anão gordo, barbudo e feio ao ponto de se tornar cômico.

“Chamamos de PALHAÇO aqueles que dedicam sua vida, a generosa missão de levar alegria aos outros. Por isto, muitas pessoas que chamamos de palhaço certamente não merecem este elogio.” Afirma Dilmar Messias do Circo Girassol.

A Segunda Palhasseata de Ilhéus atraiu pessoas de vários cantos da região Sul da Bahia. Os palhaços da região não conseguiam segurar o riso de tamanha felicidade, de estarem sendo valorizados em um movimento como esse. Um sorriso que estampava o rosto de um lado a outro. Palhaços de muitos anos de estrada e outros começando a engatilhar, sem distinção eles se abraçavam felizes. Infelizmente muitos não puderam comparecer por motivos de trabalho ou até por terem perdido a fé e atualmente renegarem o nome de palhaço pela falta de incentivo e pelo preconceito a que foram submetidos. O sucesso do movimento é algo que diz respeito a todos eles e de certa forma é uma chama que nasce e se fortalece para quem sabe resgatarmos esses palhaços de volta. Reascendo novamente a vontade de ser criança. Então vamos aguardar a concretização da Terceira Palhasseata de Ilhéus em 2013. 



Ed Paixão é ator, professor de teatro, palhaço e conselheiro municipal de cultural da área temática de teatro.

Nenhum comentário: