foto: Karoline Vital |
No
dia 8 de dezembro de 2012 a cidade de Ilhéus acordou diferente. Uns bandos de
palhaços invadiram as ruas do comércio do centro da cidade em comemoração ao
dia mundial do Palhaço que é celebrado oficialmente no dia 10 de dezembro. Em
momentos em que vivemos a mercê de tanta violência, ver um movimento como uma
passeata de palhaços é uma luz no fim do túnel. Um verdadeiro festival de cores
tomou conta das ruas mandando a lama e a sujeira da má administração pública
local embora, mesmo que temporariamente, entretanto naquele momento o riso se
fez presente. As pessoas se aglomeravam nas portas das lojas para verem a marcha
passando. Palhaços, alegres, festeiros, brincavam com todos, contagiando os
presentes com uma onda de energia positiva e vibrante.
“O
palhaço é o nosso fracasso, é aquilo que temos vergonha de mostrar, porque é
expor a nossa fragilidade e por isso nós gostamos desse ser cômico pela coragem
que ele tem em ser ele mesmo, sem tabus ou barreiras impostas pela sociedade.
Nós rimos dele, justamente por ele ser quem é... tonto, bobo, ridículo”
ressalta a professora e atriz Malu Mendes. Mandar a tristeza para longe não é
uma tarefa simples, principalmente quando essa tristeza vem enraizada com
marcas profundas, cicatrizes difíceis de serem curadas, porém a simples
presença de um palhaço pode mudar todo o clima de um ambiente, deixá-lo mais
colorido inclusive em ambientes bastante inusitados como um velório por
exemplo. Eu, aqueles que vos escreve, vejo o palhaço não como tonto, mas como o
mais sábio de todos os seres. Ele se faz de doido para receber os chicotes da
sociedade, enquanto na verdade ele está protegendo os outros ao seu redor de
uma triste realidade, usando a si próprio como imã. Sendo motivo de riso para
instaurar a paz. Grandes exemplos disso são visíveis no cinema em filmes como
“A vida é bela”, onde um palhaço luta para manter o filho sempre alegre em meio
ao holocausto em que eles vivem na Segunda Guerra Mundial. Chaplin e demais
palhaços do cinema também vão defender essa mesma filosofia.
Alguns
possivelmente demorarão a entender um movimento como esse, pela complexidade em
que ele está inserido. São palhaços? Vão fazer o quê? Palhaçadas? Novamente
repito, palhaço nenhum tem obrigação de fazer as pessoas rirem. Essa não é a
função do palhaço. Ser palhaço é está entre uma fina linha entre o certo e o
errado, entre a autoridade e a rebeldia, é nesse contexto que ele existe como
idiota, paspalho, palhaço e etc. Ele deve se preocupar antes de qualquer coisa
com sua arte, com seu poder de articulação, de transformação no meio onde ele
estiver inserido. Então a palhasseata proposta pelo Grupo Teatral Maktub é um
movimento artístico para contemplação dessa figura, o palhaço, ou deus da Alegria
- Independente de ser Baco da mitologia grega ou Bes da mitologia Egípcia, um anão gordo, barbudo e feio ao ponto
de se tornar cômico.
“Chamamos de PALHAÇO aqueles que dedicam sua
vida, a generosa missão de levar alegria aos outros. Por isto, muitas pessoas
que chamamos de palhaço certamente não merecem este elogio.” Afirma
Dilmar Messias do Circo Girassol.
A
Segunda Palhasseata de Ilhéus atraiu pessoas de vários cantos da região Sul da
Bahia. Os palhaços da região não conseguiam segurar o riso de tamanha
felicidade, de estarem sendo valorizados em um movimento como esse. Um sorriso
que estampava o rosto de um lado a outro. Palhaços de muitos anos de estrada e
outros começando a engatilhar, sem distinção eles se abraçavam felizes.
Infelizmente muitos não puderam comparecer por motivos de trabalho ou até por
terem perdido a fé e atualmente renegarem o nome de palhaço pela falta de
incentivo e pelo preconceito a que foram submetidos. O sucesso do movimento é algo
que diz respeito a todos eles e de certa forma é uma chama que nasce e se
fortalece para quem sabe resgatarmos esses palhaços de volta. Reascendo
novamente a vontade de ser criança. Então vamos aguardar a concretização da
Terceira Palhasseata de Ilhéus em 2013.
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