Perambulando
pela cidade a esmo leio em cartazes ou me falam de sábados sims, tributo a Gonzagão,
shows em Itacaré, shows em Barra Grande, casa dos artistas fazendo espetáculos,
palhassseata, mutirão para a limpeza do General Osório, estreia porcamente
dublada do Hobbit, discotecagem na pista de Skate e outros entretenimentos
acontecidos e prestes a acontecer. Há o que fazer. Mesmo reclamar de
acontecerem alguns eventos artísticos mambembes, toscos e simplórios, mas há os
muito bons e bem feitos. E meu melhor passeio da semana foi pra dentro. Ganhei
cópia de centenas de fotos de Ilhéus antes de a especulação imobiliária
esculhambar toda aquela paisagem urbana linda e meio cafona da época dos
exploronéis.
Um
disco novo dos Bad Brains sempre me
deixa feliz. Into the Future saiu em 20 de novembro com a formação sagrada e
passeia por todos os estilos que fazem o estilo deles. Disco lindo deixa claro
o que é ser Rock Alternativo. Tá tudo lá: a timbragem própria, o rastacore, o
rastapunk, o dub, o reggae roots e as loucuras experimentais. Ouvindo o disco
Lembrei na hora d’OQuadro que
recebeu três estrelas e meia na Rolling Stone Brasil. Isso em números dá seis e
meio, mesmo valor dado por um meu amigo fraterno do grupo para o disco. Eu
gosto do álbum todo. O crítico falou bem do trabalho dos caras. Nele tem Reggae,
Eletrônica, Dub, Funk, Rock, Afrobeat, pseudojazz e sempre o Rap na base de
tudo. Letras enoooormes e agressivamente bem humoradas sendo decoradas e
cantadas pelo público, nos shows nos quais estive. Espero ansioso o momento de
eles terem cacife para pedir qualquer sandice dentro do camarim. Pensem: 5
engradados de tubaína de tutti frutti e 1 sonho de goiabada. O poder. E enquanto
leio sobre OQuadro alguém para e me
diz “Cara, cê já ouviu o novo do Caetano,
o Abraçaço? Tá genial.” Comprei e achei o disco legalzinho. Fiquei
quieto, estava com fome e sem saco para discutir sobre. Caetano é genial sim, é
um velho bonito, se juntou faz tempo com jovenzinhos que, graças a Deus, ficam
sem tempo de gravar seus projetos solo, e fez um disco cheio daqueles negócios
de parecer ter tesão em revolucionar, criar, agredir e comer todo mundo. Bem
tocado, bem produzido, de roque, lembra ele nos setenta. Mas e se o disco
tivesse sido feito por anônimos da silva santos que moram em trololó do norte?
Avaliar gênios quando fazem trabalhos meia boca dá até medo. Já escuto o “Quem
é você pra falar e blá-blá-blá...” Estou até agora tentando entender algumas
resenhas sobre o disco. A maioria delas discorre tão complexamente que parecem
tratados sócio culturais de Doutores. Meu texto tem que ficar mais legal que o
trabalho do qual eu estou falando? Olha como sou genial escrevendo sobre tal
coisa? Puta que pariu...
E o
novo disco do sr. Bocato, Esculturas de Vento? Ninja do trombone
que roda o mundo faz tempo, ele fez um disco excelente. O cara simplesmente fez
um amalgama da sua vida musical inteira. Catarse do caralho. Orquestrou tudo no
álbum duplo, entrando aí musica erudita, jazz, musica brasileira, algum roque e
experimentos eletrônicos. Um disco para quem quer desacelerar dessa ânsia
epiléptica da internet que cobra velocidade e novidade. É uma obra musical. Convém
sentar calmamente, pegar alguma coisa para beber, uma comidinha, um lugar
confortável e a disposição de seguir a ordem das músicas. Será gratificante,
garanto. E melhor do que ficar patinando sobre tudo por não ter tempo de
absorver nada de forma consciente e tranquila. Tenta ouvir um disco sem a
preocupação de ter que opinar sobre ele às oito da manhã e chamar quem o escuta
depois de um mês de lançado de atrasado. É bom digerir.
P.S.
1 - o nome do disco do Sr. Caetano vem de Abracadabraço, um cumprimento que o
Sr. Millôr Fernandes usava para finalizar e-mails que respondia. Uma
corruptela.
P.S.
2 - Bossa nova não é foda. É percuciência erótica romântica.
Qila é pesquisador, crítico de música e pensador nas horas vagas. Todos os sábados ele escreve sobre música.
Um comentário:
Booaa cara, essas críticas novas tão ficando cada vez mais parciais, pessoais, e intuitivas q técnica, e ainda mais sobre uma obra do eterno tropicália de nelson motta, mas é isso aí tá massa o texto.....
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