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sábado, 15 de dezembro de 2012

Ouver - por QILA


Perambulando pela cidade a esmo leio em cartazes ou me falam de sábados sims, tributo a Gonzagão, shows em Itacaré, shows em Barra Grande, casa dos artistas fazendo espetáculos, palhassseata, mutirão para a limpeza do General Osório, estreia porcamente dublada do Hobbit, discotecagem na pista de Skate e outros entretenimentos acontecidos e prestes a acontecer. Há o que fazer. Mesmo reclamar de acontecerem alguns eventos artísticos mambembes, toscos e simplórios, mas há os muito bons e bem feitos. E meu melhor passeio da semana foi pra dentro. Ganhei cópia de centenas de fotos de Ilhéus antes de a especulação imobiliária esculhambar toda aquela paisagem urbana linda e meio cafona da época dos exploronéis.


Um disco novo dos Bad Brains sempre me deixa feliz. Into the Future saiu em 20 de novembro com a formação sagrada e passeia por todos os estilos que fazem o estilo deles. Disco lindo deixa claro o que é ser Rock Alternativo. Tá tudo lá: a timbragem própria, o rastacore, o rastapunk, o dub, o reggae roots e as loucuras experimentais. Ouvindo o disco Lembrei na hora d’OQuadro que recebeu três estrelas e meia na Rolling Stone Brasil. Isso em números dá seis e meio, mesmo valor dado por um meu amigo fraterno do grupo para o disco. Eu gosto do álbum todo. O crítico falou bem do trabalho dos caras. Nele tem Reggae, Eletrônica, Dub, Funk, Rock, Afrobeat, pseudojazz e sempre o Rap na base de tudo. Letras enoooormes e agressivamente bem humoradas sendo decoradas e cantadas pelo público, nos shows nos quais estive. Espero ansioso o momento de eles terem cacife para pedir qualquer sandice dentro do camarim. Pensem: 5 engradados de tubaína de tutti frutti e 1 sonho de goiabada. O poder. E enquanto leio sobre OQuadro alguém para e me diz “Cara, cê já ouviu o novo do Caetano, o Abraçaço? Tá genial.” Comprei e achei o disco legalzinho. Fiquei quieto, estava com fome e sem saco para discutir sobre. Caetano é genial sim, é um velho bonito, se juntou faz tempo com jovenzinhos que, graças a Deus, ficam sem tempo de gravar seus projetos solo, e fez um disco cheio daqueles negócios de parecer ter tesão em revolucionar, criar, agredir e comer todo mundo. Bem tocado, bem produzido, de roque, lembra ele nos setenta. Mas e se o disco tivesse sido feito por anônimos da silva santos que moram em trololó do norte? Avaliar gênios quando fazem trabalhos meia boca dá até medo. Já escuto o “Quem é você pra falar e blá-blá-blá...” Estou até agora tentando entender algumas resenhas sobre o disco. A maioria delas discorre tão complexamente que parecem tratados sócio culturais de Doutores. Meu texto tem que ficar mais legal que o trabalho do qual eu estou falando? Olha como sou genial escrevendo sobre tal coisa? Puta que pariu...

E o novo disco do sr. Bocato, Esculturas de Vento? Ninja do trombone que roda o mundo faz tempo, ele fez um disco excelente. O cara simplesmente fez um amalgama da sua vida musical inteira. Catarse do caralho. Orquestrou tudo no álbum duplo, entrando aí musica erudita, jazz, musica brasileira, algum roque e experimentos eletrônicos. Um disco para quem quer desacelerar dessa ânsia epiléptica da internet que cobra velocidade e novidade. É uma obra musical. Convém sentar calmamente, pegar alguma coisa para beber, uma comidinha, um lugar confortável e a disposição de seguir a ordem das músicas. Será gratificante, garanto. E melhor do que ficar patinando sobre tudo por não ter tempo de absorver nada de forma consciente e tranquila. Tenta ouvir um disco sem a preocupação de ter que opinar sobre ele às oito da manhã e chamar quem o escuta depois de um mês de lançado de atrasado. É bom digerir.

P.S. 1 - o nome do disco do Sr. Caetano vem de Abracadabraço, um cumprimento que o Sr. Millôr Fernandes usava para finalizar e-mails que respondia. Uma corruptela.

P.S. 2 - Bossa nova não é foda. É percuciência erótica romântica.

P.S. 3 - Não leiam 50 Tons de Cinza. O livro é uma merda. 







Qila é pesquisador, crítico de música e pensador nas horas vagas. Todos os sábados ele escreve sobre música.

Um comentário:

Anônimo disse...

Booaa cara, essas críticas novas tão ficando cada vez mais parciais, pessoais, e intuitivas q técnica, e ainda mais sobre uma obra do eterno tropicália de nelson motta, mas é isso aí tá massa o texto.....