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sábado, 15 de dezembro de 2012

O verdadeiro artista pensa coletivamente - por PAWLO CIDADE


“Coletividade não é apenas trabalhar com um grupo. Coletividade é abertura.
Permitir que outrem faça parte de suas atividades sem distinção. Os nichos criam umbigos.”
P.C.

Quais são os critérios que podem ser utilizados para que um artista possa ser identificado ou devidamente reconhecido por seus pares? Seu tempo de atuação na área? Sua reputação junto ao público? A qualidade artística do trabalho que ele realiza? Suas qualificações profissionais? Que mais podemos dizer? Talvez a capacidade de liderança ou de articulação também pudesse ser considerada na identificação. O fato é que, a forma pela qual se tenta criar critérios para que as próximas eleições do Conselho Municipal de Cultura sejam mais democráticas e limpas, tem se tornado palco de discussões na Comissão criada para este fim.


Quem mais, além dos próprios artistas, poderia criar estes critérios? Os produtores culturais e outros profissionais do ramo podem também contribuir se levarmos em conta que eles estão diretamente ligados as produções. E por que não a sociedade civil, principal consumidora dos produtos gerados pelos artistas? Afinal, construímos políticas públicas para a comunidade e não para os segmentos. Correto? O que se cria para os segmentos são planos de carreira, funções, planejamentos, estratégias.

Entretanto, há de se considerar que critérios são elementos muito subjetivos. Porém, ainda é a melhor forma de reconhecimento. Nem sempre quem se diz artista, o é. Talvez algumas virtudes pudessem ser observadas. E elas, certamente, seriam alvo de desqualificação ou qualificação dos artistas. Principalmente se considerarmos o princípio da humildade. Quantos artistas, produtores e gestores culturais têm um discurso e a prática é outra? Longe estou de apontar nomes. Eu feriria outro princípio extremamente importante: a Ética! E a ética, caros amigos, prezadas leitoras, muitas vezes passa despercebida no meio.

Por fim, ao tentar se criar uma condição para o reconhecimento oficial da classe, uma característica chama a atenção. Talvez ela não esteja estabelecida como um princípio ou até mesmo como elemento criterioso para a identificação. Contudo, há de se pensar no conceito de coletividade. Não no sentido de nichos. Apesar de nicho ter vários significados, sobretudo o de segmento de mercado, penso em nicho como ele é explicado a partir do meio ambiente. Explico: coletividade não é apenas trabalhar com um grupo. Coletividade é abertura. Permitir que outrem faça parte de suas atividades sem distinção. Os nichos criam umbigos. E não desejamos criar “umbigos”, queremos criar “cordões umbilicais” que se interliguem com outros cordões.

Assim, se o artista traz em sua concepção um sentimento de coletividade, de abertura, de capacidade de ouvir, já é caracterizado aí um artista inteiro. Como diz o radialista Vila Nova no seu tabuleiro todas as manhãs: “É isso que eu acho. É isso que eu penso.”




 
Pawlo Cidade é escritor, crítico literário dramaturgo, diretor de teatro e membro da Academia de Letras de Ilhéus. 


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