“Coletividade
não é apenas trabalhar com um grupo. Coletividade é abertura.
Permitir
que outrem faça parte de suas atividades sem distinção. Os nichos criam
umbigos.”
P.C.
Quais são os critérios que podem ser
utilizados para que um artista possa ser identificado ou devidamente
reconhecido por seus pares? Seu tempo de atuação na área? Sua reputação junto
ao público? A qualidade artística do trabalho que ele realiza? Suas qualificações
profissionais? Que mais podemos dizer? Talvez a capacidade de liderança ou de
articulação também pudesse ser considerada na identificação. O fato é que, a
forma pela qual se tenta criar critérios para que as próximas eleições do
Conselho Municipal de Cultura sejam mais democráticas e limpas, tem se tornado
palco de discussões na Comissão criada para este fim.
Quem mais, além dos próprios artistas,
poderia criar estes critérios? Os produtores culturais e outros profissionais
do ramo podem também contribuir se levarmos em conta que eles estão diretamente
ligados as produções. E por que não a sociedade civil, principal consumidora
dos produtos gerados pelos artistas? Afinal, construímos políticas públicas
para a comunidade e não para os segmentos. Correto? O que se cria para os
segmentos são planos de carreira, funções, planejamentos, estratégias.
Entretanto, há de se considerar que critérios
são elementos muito subjetivos. Porém, ainda é a melhor forma de
reconhecimento. Nem sempre quem se diz artista, o é. Talvez algumas virtudes
pudessem ser observadas. E elas, certamente, seriam alvo de desqualificação ou
qualificação dos artistas. Principalmente se considerarmos o princípio da
humildade. Quantos artistas, produtores e gestores culturais têm um discurso e
a prática é outra? Longe estou de apontar nomes. Eu feriria outro princípio
extremamente importante: a Ética! E a ética, caros amigos, prezadas leitoras,
muitas vezes passa despercebida no meio.
Por fim, ao tentar se criar uma condição para
o reconhecimento oficial da classe, uma característica chama a atenção. Talvez
ela não esteja estabelecida como um princípio ou até mesmo como elemento
criterioso para a identificação. Contudo, há de se pensar no conceito de
coletividade. Não no sentido de nichos. Apesar de nicho ter vários
significados, sobretudo o de segmento de mercado, penso em nicho como ele é
explicado a partir do meio ambiente. Explico: coletividade não é apenas
trabalhar com um grupo. Coletividade é abertura. Permitir que outrem faça parte
de suas atividades sem distinção. Os nichos criam umbigos. E não desejamos
criar “umbigos”, queremos criar “cordões umbilicais” que se interliguem com
outros cordões.
Assim, se o artista traz em sua concepção um
sentimento de coletividade, de abertura, de capacidade de ouvir, já é
caracterizado aí um artista inteiro. Como diz o radialista Vila Nova no seu
tabuleiro todas as manhãs: “É isso que eu acho. É isso que eu penso.”
Pawlo Cidade é escritor, crítico literário dramaturgo, diretor de teatro e membro da Academia de Letras de Ilhéus.
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