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sábado, 22 de dezembro de 2012

Outras velas precisam ser acesas – por PAWLO CIDADE


“Pedro e Équio, Équio e Pedro. Quando se foram, perguntaram quem
assumiria agora a função de perpetuar o legado cênico.”
P.C.


O saudoso Pedro Mattos, ator e diretor de teatro, foi um incansável batalhador das Políticas Públicas de Cultura. Acredito que, se não fosse por sua insistência, performances e vigília, o Teatro Municipal de Ilhéus e o Circo Folias de Gabriela (e não “da Gabriela” como ele sempre corrigia) não teriam saído. Evidente que não tiro aqui a vontade política do governante municipal da época. É importante salientar que foi o único a construir os referidos espaços.


Pedro Mattos foi gestor do Circo e chegou a ser do Teatro. Passou por vários cargos na Fundação Cultural. Conhecia de cabo a rabo toda a sua estrutura, criava projetos, montava peças e brigava nas reuniões com os artistas. Seja no seu grupo, o CTT – Companhia Talentos da Terra, do qual tive a honra de participar e subir ao palco do Municipal pela primeira vez com a personagem Curupira; seja na SACI – Sociedade de Arte e Cultura de Ilhéus. Pedro tinha seus desejos, suas ideias, suas convicções. Porém, ficou nisso. Pedro ficou doente. Pedro morreu.

Depois, foi a vez do emblemático Équio Reis. Um figurinista de mão cheia. Um cenógrafo de tirar o chapéu. É fato que ele e Pedro chegaram a trabalhar juntos, na Fundação Cultural. Entretanto, cada um tinha suas idiossincrasias. E isto foi louvável até certo ponto. Presenciei arranca rabos entre ambos. No entanto, no final, tudo acaba em pizza e muita gargalhada. Équio, o homem do teatro, fundador do Teatro Vila Velha, de Salvador, ator, diretor, cenógrafo, figurinista, dramaturgo e também criador do Teatro Popular de Ilhéus foi gerente do Teatro Municipal e assumiu alguns cargos também na Fundação Cultural de Ilhéus.

Pedro e Équio, Équio e Pedro. Quando se foram, perguntaram quem assumiria agora a função de perpetuar o legado cênico. Quem continuaria despertando o interesse aos jovens pela arte de interpretar. Quem não deixaria morrer os ideais de uma política pública que não fosse excludente. Em meio as indagações, escrevendo, produzindo e dirigindo seus espetáculos, surgiu um jovem com vontade de acertar. E ele começou pelo Teatro Infantil com a humorada “A Piranha e o Baiacu”. É bem verdade que Pedro e Équio se foram muito depois dele começar a produzir e descobrir talentos nas escolas públicas. Isto causou indiferença, mas não o impediu de continuar. Este jovem autodidata percebeu que qualificação, compromisso e responsabilidade não podiam ficar de fora de sua profissionalização. E foi o que fez. Se profissionalizou, germinou e até hoje planta sementes. Talvez esta seja sua missão: plantar sementes.

Paralelo a tudo isso também surgiram outros jovens como Lamartine Ferreira, Justino Vianna, Padre Joelson Dias, Bruno Susmaga e Hermilo Menezes; depois, Romualdo Lisboa com a ideia propagada por Équio Reis que o negócio era teatro de grupo.

Hoje, estou como conselheiro estadual da Câmara Setorial de Teatro. E quero continuar contribuindo com a categoria como sempre fiz. Talvez não mais aqui. Já dei minha contribuição. Outras praças me esperam. Outros espaços precisam de novas vigílias. Outras velas precisam ser acesas.

Foto: “O Curumim Invisível”, dirigida por Pedro Mattos (terceiro em pé da D. para E.
Na foto ainda estão: Rita Santana, Orlone, Fábio Lago, Esther Santana, Carmen e Pawlo Cidade. Agachados: Lelê, Paulo Rosário, Pona, Ivan Souto e Xandoca.

Pawlo Cidade é escritor, crítico literário dramaturgo, diretor de teatro e membro da Academia de Letras de Ilhéus. 

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