“Pedro
e Équio, Équio e Pedro. Quando se foram, perguntaram quem
assumiria
agora a função de perpetuar o legado cênico.”
P.C.
O
saudoso Pedro Mattos, ator e diretor de teatro, foi um incansável batalhador
das Políticas Públicas de Cultura. Acredito que, se não fosse por sua
insistência, performances e vigília, o Teatro Municipal de Ilhéus e o Circo
Folias de Gabriela (e não “da Gabriela” como ele sempre corrigia) não teriam
saído. Evidente que não tiro aqui a vontade política do governante municipal da
época. É importante salientar que foi o único a construir os referidos espaços.
Pedro
Mattos foi gestor do Circo e chegou a ser do Teatro. Passou por vários cargos
na Fundação Cultural. Conhecia de cabo a rabo toda a sua estrutura, criava
projetos, montava peças e brigava nas reuniões com os artistas. Seja no seu
grupo, o CTT – Companhia Talentos da Terra, do qual tive a honra de participar
e subir ao palco do Municipal pela primeira vez com a personagem Curupira; seja
na SACI – Sociedade de Arte e Cultura de Ilhéus. Pedro tinha seus desejos, suas
ideias, suas convicções. Porém, ficou nisso. Pedro ficou doente. Pedro morreu.
Depois,
foi a vez do emblemático Équio Reis. Um figurinista de mão cheia. Um cenógrafo
de tirar o chapéu. É fato que ele e Pedro chegaram a trabalhar juntos, na
Fundação Cultural. Entretanto, cada um tinha suas idiossincrasias. E isto foi
louvável até certo ponto. Presenciei arranca rabos entre ambos. No entanto, no
final, tudo acaba em pizza e muita gargalhada. Équio, o homem do teatro,
fundador do Teatro Vila Velha, de Salvador, ator, diretor, cenógrafo,
figurinista, dramaturgo e também criador do Teatro Popular de Ilhéus foi
gerente do Teatro Municipal e assumiu alguns cargos também na Fundação Cultural
de Ilhéus.
Pedro
e Équio, Équio e Pedro. Quando se foram, perguntaram quem assumiria agora a
função de perpetuar o legado cênico. Quem continuaria despertando o interesse
aos jovens pela arte de interpretar. Quem não deixaria morrer os ideais de uma
política pública que não fosse excludente. Em meio as indagações, escrevendo,
produzindo e dirigindo seus espetáculos, surgiu um jovem com vontade de
acertar. E ele começou pelo Teatro Infantil com a humorada “A Piranha e o
Baiacu”. É bem verdade que Pedro e Équio se foram muito depois dele começar a
produzir e descobrir talentos nas escolas públicas. Isto causou indiferença,
mas não o impediu de continuar. Este jovem autodidata percebeu que
qualificação, compromisso e responsabilidade não podiam ficar de fora de sua profissionalização.
E foi o que fez. Se profissionalizou, germinou e até hoje planta sementes.
Talvez esta seja sua missão: plantar sementes.
Paralelo
a tudo isso também surgiram outros jovens como Lamartine Ferreira, Justino
Vianna, Padre Joelson Dias, Bruno Susmaga e Hermilo Menezes; depois, Romualdo
Lisboa com a ideia propagada por Équio Reis que o negócio era teatro de grupo.
Hoje,
estou como conselheiro estadual da Câmara Setorial de Teatro. E quero continuar
contribuindo com a categoria como sempre fiz. Talvez não mais aqui. Já dei
minha contribuição. Outras praças me esperam. Outros espaços precisam de novas
vigílias. Outras velas precisam ser acesas.
Foto: “O
Curumim Invisível”, dirigida por Pedro Mattos (terceiro em pé da D. para E.
Na
foto ainda estão: Rita Santana, Orlone, Fábio Lago, Esther Santana, Carmen e
Pawlo Cidade. Agachados: Lelê, Paulo Rosário, Pona, Ivan Souto e Xandoca.
Pawlo Cidade é escritor, crítico literário dramaturgo, diretor de teatro e membro da Academia de Letras de Ilhéus.
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