“Eu preciso deixar mais claro meu
projeto estético e ideológico. Meu Teatro é mais humano.”
P.C.
Esta semana, na página da Câmara Setorial de
Teatro, anunciei que em Ilhéus estão em atividade neste momento, nove
companhias de Teatro. Eu chamei até de grupos, porém, depois, pensando melhor,
percebi que a palavra grupo tem sua origem numa “categoria de organização e
produção teatral em que um núcleo de atores movidos por um mesmo objetivo e
ideal realiza um trabalho de continuidade e, estendendo sua atuação a outras
áreas, principalmente no que diz respeito à própria concepção do projeto
estético e ideológico, o grupo acaba por criar uma linguagem que o identifica.”
O que isso significa? É bom que se entenda
logo de início que a prática coletiva do Teatro não constitui em si uma
modalidade, uma vez que o Teatro tem como definição essencial a pluralidade. Ora,
apesar do Teatro ser uma arte criada por várias cabeças pensantes (cenógrafo,
atores, figurinista, coreógrafo, autor, diretor etc) ele só se torna arte no
momento do espetáculo. Momento este em que a plateia está reunida num mesmo
lugar.
Alguns estudiosos do assunto, como Romualdo
Lisboa, diretor do Teatro Popular de Ilhéus, entende como “teatro de grupo” não
uma mera organização coletiva. Vai muito mais além. Caracteriza-se por um
engajamento de toda a equipe da companhia em um projeto em que esta mesma
equipe não se desfaz logo que um espetáculo termina. Em lugar do salário
mensal, o grupo é remunerado por meio de um sistema cooperativado, onde todos -
à exceção do diretor - recebem partes iguais de um mesmo trabalho. Não
importando se o ator “A” ou “B” fez um ou mais personagens. É assim que
funciona no Grupo Teatro Total e no Teatro Popular de Ilhéus.
Não tive como consultar as demais companhias:
Boi da Cara Preta, Maktub, Popular Jorge Amado, Maria Fumaça, Companhia
Ilheense de Teatro Musical, Casa Aberta e Arte Viva Perna de Pau. Mas, acredito
que seja da mesma maneira.
Sim, o que isto significa? Volto a perguntar
outra vez. Há aqui duas características que não se completam, porém, se
contradizem quando prefiro afirmar que entre os nove “grupos” existentes,
apenas um pode ser chamado de grupo. Levando-se em consideração o conceito de
“teatro de grupo”. Não que os outros não sejam grupos. É um paradoxo o que vou
afirmar, mas o fato é que os grupos existentes não são grupos - a exceção do
Teatro Popular de Ilhéus - à medida em que eles não estão “movidos por um mesmo
objetivo e ideal” e não realizam um trabalho de continuidade. Portanto, não
possuem “uma linguagem que os identifica.”
Por exemplo, o Grupo Teatro Total, apesar de
possuir um elenco definido que vem trabalhando o Teatro como um todo, ainda não
encontrou o “caminho das pedras”. Elenco tem, equipe tem, autor e diretor
também tem. Entretanto, ainda precisa focar. Ainda precisa encontrar uma linha
que o identifique. “Eu preciso deixar mais claro meu projeto estético e
ideológico. Meu Teatro é mais humano.” Não que os outros não sejam. Todavia, o
Grupo Teatro Total estuda uma linha. E esta linha ou é muito tênue ou
simplesmente ainda não a enxergamos.
E o que dizer dos demais? Se tivéssemos
críticos e historiadores em Ilhéus, talvez eles creditassem ao fenômeno, uma
importância histórica. Basta olhar para os anos noventa quando existiam o CTT,
Caras e Máscaras, SETA, Chocolate & Cia, GTAI, Macuco, CIT e tantos outros
na região.
Entretanto, por grupo podemos ainda entender
como um conjunto de pessoas diferentes que partilham os mesmos objetivos e
necessidades, sem, no entanto, produzir algo em continuidade que os
identifique. Isto faz com que diferentes produções possam ser avaliadas de
forma independente. O que não ocorreria com o Teatro Popular de Ilhéus. O
espectador pode até não gostar do trabalho, mas, para criticar um espetáculo,
você precisa entender a trajetória do grupo, o processo de criação e a linha de
trabalho. A crítica pela crítica não acrescenta nada.
O ator participa de um grupo desde que tenha
consciência que partilha dos mesmos valores, regras e objetivos,
características dos outros elementos que formam o grupo. “Todos os grupos,
enquanto entidade viva e dinâmica, evoluem, ultrapassando diversas etapas ou
fases de desenvolvimento durante o seu período de vida.” Os grupos estão
formando um mercado fora das salas de espetáculo dos grandes centros.
Pawlo Cidade - Diretor Artístico / Presidente do FAEGSUL
Nenhum comentário:
Postar um comentário