Início

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Teatro e Circunstância – por PAWLO CIDADE


“Sabe aquela história em que um amigo pode resolver um problema a dois? Pois é, o mesmo amigo pode acabar com os dois!”
PC

 Diz o dito popular que “a ocasião faz o ladrão.” No Teatro, este ditado ganha contornos que se contrapõem ao adágio, já que a expressão “ladrão” passa a ser pejorativa. Refiro-me a um termo comum, mas, pouco percebido no processo de criação: a circunstância. Uma ou mais circunstâncias compõem uma cena ou uma peça inteira no Teatro.


As circunstâncias são particularidades que acompanham um determinado fato ou, no sentido real da palavra, uma situação. A circunstância caracteriza-se pelo estado atual das coisas, da conjuntura. Está escrito no dicionário.

São as circunstâncias que facilitam ou permitem a compreensão, segundo Patrice Pavis. São, entre outras, “coordenadas espaço-temporais, temas de enunciação, dêiticos (elemento que tem por objetivo localizar o fato no tempo e espaço sem definí-lo. Alguns pronomes demonstrativos podem ser expressões dêiticas bem como certos advérbios, a exemplo de “lá, cá, onde, aqui, etc), portanto, tudo o que pode esclarecer a ‘mensagem’ lingüística e cênica e sua enunciação.”

As circunstâncias criam o contexto do espetáculo. Em sentido mais restrito e mais estritamente lingüístico, “o contexto é o círculo imediato da palavra ou da frase, o antes e o depois do termo isolado, o contexto, no sentido do contexto verbal e em oposição ao contexto situacional. Desse modo, uma cena, uma tirada só fazem sentido quando colocadas em situação e vistas como transição entre duas situações ou duas ações.”

Entretanto, podemos ver também as circunstâncias pelo ângulo da interpretação, do ponto de vista do ator que, ao “receber as circunstâncias” precisa criar “circunstâncias paralelas” para compor sua personagem. A essa conjuntura o ator ver-se obrigado a se dobrar as situações. É, indiscutivelmente, uma faca de dois gumes. Primeiro, pode agravar o processo de criação; segundo, como se diz na criminalística, pode “atenuar a culpabilidade de quem a praticou.”

Portanto, as circunstâncias no processo de criação podem ser agravantes ou atenuantes. E isto está estritamente ligado há alguns fatores, entre eles a condução das cenas pelo diretor. Sabe aquela história em que um amigo pode resolver um problema a dois? Pois é, o mesmo amigo pode acabar com os dois!






Pawlo Cidade - Diretor Artístico / Presidente do FAEGSUL

Nenhum comentário: