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sábado, 16 de março de 2013

Penosa ignorância – por ALFREDO AMORIM


Matéria publicada no jornal “Correio de Ilhéus” em 28 de junho de 1930 sobre Jorge Amado
  
Ilhéus aos olhos mortiços de ridículo esteta

Advertências necessárias ao sórdido panfleto “etc”

Um franchinote qualquer, metido à esteta e a crítico pedante, acaba de vomitar, através das apagadas colunas desse desgracioso e mal amanhado panfleto “ETC”, que se edita na capital do estado, um bocado de sandices e asneiras, qual a qual mais retumbante e mais completa, sobre fatos e coisas atuais de Ilhéus, este mesmo rincão hospitaleiro e generoso que enriquece aventureiros, de todo jaez e derrama fortunas em mãos de criançolas vadias e estróinas, para lhe elas mal dizerem com ênfase.
Tal é, precisamente, o caso dos “Casos e Cousas” de certo rapazelho sem cultura nem senso, educação ou critério, que escreve no precipitado jornaleco, ou, melhor, no ilustrado periódico baiano.
Prosa chilra, amarelona, estilo vitando, espécie de reboque de bonde ou ponta de cigarro de literatura, cheio de muita embófia e vazio de qualidades ou importância.
De feito, a caturral apreciação que de Ilhéus fez esse lóio, está a merecer severa reprimenda, pelas mentiras que encerra e pelo tom arrebicado e descortês que se lhe observa no bojo.
Não que pretendamos chamar à bema este areopagita de baixo coturno, autor de baldrocas e patranhas sobre a vida político social de nossa terra, cuja fama é crescente, de dia para dia, na opinião dos auto cotubernais da boa crítica e do bom senso, que, aqui vivendo ou por aqui passando, sentem o gasalhoso contato dessas auras, descansam o olhar nesta prediação moderna e elegante, nesses formosos e bem cuidados jardins, nessas ruas e praças regularmente calçadas e sempre cheias de muita higiene.
Esses, os sensatos, que conhecem pontos vários do Brasil e da capital bahiana também, costumam nivelar Ilhéus as boas cidades do país, ao contrário, pois, do que faz a catrozada de néscios e energúmenos, de vista curta ou espírito estreito, como o criticoide ou criticalho de rombo gênero.
Não há como definir a birra desse mocinho para com Ilhéus, seu berço talvez. Que o injusto e pérfido anatemário lançado à face da sociedade desta terra, pelo mau palinuro, é bem a prova de sua mesma ignorância e de sua derramada estupidez.
Verdadeira balda de caturra, com o intuito só de apepinar a terra que alimenta os ingratos desse porte, o artigo em questão ressuma biles e pus e carece adargado decididamente.
“Ilhéus é somente uma cidade de “novos ricos”. Tudo é balburdia. Um luxo sem arte provando uma aristocracia de banhos semanais. Prédios bonitos, mas, inteiramente sem estética”.
Naturalmente esse escritor de tamancos pretenda aferir os hábitos, costumes e modos da sociedade de Ilhéus pelo que vê em sua própria casa.
Gente fina, elegante, vivendo a vida social dos grandes meios, conhecendo muitas capitais adiantadas do Brasil, da América e da Europa, o que positivamente não conhece o Sr. Jorge Amado. – a aristocracia de Ilhéus, não pode ser de banhos semanais (?).
Os prédios de Ilhéus, na sua maioria, são de moderna construção, obedecendo a gosto e regras arquitetônicas apreciáveis, todos aos moldes da boa estética, principalmente seguida no Rio e em São Paulo.
E, agora que o gazetilheiro imbecil está no Rio de Janeiro, e, se tiver olhos para ver, observe cuidadosamente aqueles delicados e mimosos bangalôs de Copacabana, Ipanema, Lê Blon, Urca, e aqueles belos sobrados, aqueles prédios distintos dali e os compare, por processo memórico, aos bangalôs, sobrados, prédios de Ilhéus.
Diga que grande diferença encontra entre uns e outros.
A bem da dignidade e em desafronta dos brios da nossa terra, é preciso escardinchar, com veemência e decisão, a incongruência franchinótica do Sr. Jorge Amado, para que ele tome juízo e educação.
Outro ponto muito interessante da algaravia desse arestéiro é este:
“A imprensa é o “Diário da Tarde”, dos outros jornais não vale a pena falar".
O “Diário” conta com o talento grande de Otávio Moura. E, em todo Ilhéus, ainda existem umas três pessoas de talento ou talvez duas...
Não há dúvida: Na hipótese de só haver duas pessoas de talento, em Ilhéus, a primeira é Jorge Amado e a segunda, Jorge Amado. E, na primeira hipótese, a terceira é o Sr. Otávio Moura.
Alias nos aqui pensávamos que o talento grande do “Diário da Tarde” fosse o Sr. Carlos Monteiro, ou o Dr. Eusínio Lavigne.
Mas o critiqueiro nos mostrou o contrário, embora não deixemos de reconhecer nesse esforçado rapaz noticiarista do outro órgão, algum talento.
Em verdade, para o Sr. Jorge Amado só existe, em Ilhéus, o “Diário da Tarde”.
Pode ser que somente a condimentação, a indumentária do mesmo, lhe satisfaça o fino paladar.
Que se há de fazer? Não é possível agradar-se a todos. Essa questão de gosto é coisa muito séria e controvertida.
 Fique, porém, o Sr. Jorge com o seu “Diário da Tarde”, que nos aqui permaneceremos sem relegar a nossa profissão, ou fechar as portas, só porque não houvéssemos encontrado alguém que não nos reconhece valia ou importância qualquer.
Isso, todavia, é sinal dos tempos.
O rapazinho estudante começou, entretanto, muito mal a sua vida literária: investindo acerbamente, mal-aventuradamente contra uma sociedade inteira, elegante, digna, realizadora, e, por outro lado, exercendo a tática do elogio mutuo.
São, contudo, recursos dos nulos, dos insensatos, dos incapazes, não há que ver...

Pesquisa feita por Alfredo Amorim da Silveira.

 
Alfredo Amorim é ilheense nascido e criado nessas terras, membro do Instituto Histórico de Ilhéus e observador atento das ruas da cidade.

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