Matéria
publicada no jornal “Correio de Ilhéus” em 28 de junho de 1930 sobre Jorge
Amado
Ilhéus aos olhos mortiços de ridículo
esteta
Advertências necessárias ao sórdido
panfleto “etc”
Um franchinote qualquer, metido à
esteta e a crítico pedante, acaba de vomitar, através das apagadas colunas
desse desgracioso e mal amanhado panfleto “ETC”, que se edita na capital do
estado, um bocado de sandices e asneiras, qual a qual mais retumbante e mais
completa, sobre fatos e coisas atuais de Ilhéus, este mesmo rincão hospitaleiro
e generoso que enriquece aventureiros, de todo jaez e derrama fortunas em mãos
de criançolas vadias e estróinas, para lhe elas mal dizerem com ênfase.
Prosa chilra, amarelona, estilo
vitando, espécie de reboque de bonde ou ponta de cigarro de literatura, cheio
de muita embófia e vazio de qualidades ou importância.
De feito, a caturral apreciação que de
Ilhéus fez esse lóio, está a merecer severa reprimenda, pelas mentiras que
encerra e pelo tom arrebicado e descortês que se lhe observa no bojo.
Não que pretendamos chamar à bema este
areopagita de baixo coturno, autor de baldrocas e patranhas sobre a vida
político social de nossa terra, cuja fama é crescente, de dia para dia, na
opinião dos auto cotubernais da boa crítica e do bom senso, que, aqui vivendo
ou por aqui passando, sentem o gasalhoso contato dessas auras, descansam o
olhar nesta prediação moderna e elegante, nesses formosos e bem cuidados
jardins, nessas ruas e praças regularmente calçadas e sempre cheias de muita
higiene.
Esses, os sensatos, que conhecem
pontos vários do Brasil e da capital bahiana também, costumam nivelar Ilhéus as
boas cidades do país, ao contrário, pois, do que faz a catrozada de néscios e
energúmenos, de vista curta ou espírito estreito, como o criticoide ou criticalho
de rombo gênero.
Não há como definir a birra desse
mocinho para com Ilhéus, seu berço talvez. Que o injusto e pérfido anatemário
lançado à face da sociedade desta terra, pelo mau palinuro, é bem a prova de
sua mesma ignorância e de sua derramada estupidez.
Verdadeira balda de caturra, com o
intuito só de apepinar a terra que alimenta os ingratos desse porte, o artigo
em questão ressuma biles e pus e carece adargado decididamente.
“Ilhéus é somente uma cidade de “novos
ricos”. Tudo é balburdia. Um luxo sem arte provando uma aristocracia de banhos
semanais. Prédios bonitos, mas, inteiramente sem estética”.
Naturalmente esse escritor de tamancos
pretenda aferir os hábitos, costumes e modos da sociedade de Ilhéus pelo que vê
em sua própria casa.
Gente fina, elegante, vivendo a vida
social dos grandes meios, conhecendo muitas capitais adiantadas do Brasil, da
América e da Europa, o que positivamente não conhece o Sr. Jorge Amado. – a
aristocracia de Ilhéus, não pode ser de banhos semanais (?).
Os prédios de Ilhéus, na sua maioria,
são de moderna construção, obedecendo a gosto e regras arquitetônicas
apreciáveis, todos aos moldes da boa estética, principalmente seguida no Rio e
em São Paulo.
E, agora que o gazetilheiro imbecil
está no Rio de Janeiro, e, se tiver olhos para ver, observe cuidadosamente
aqueles delicados e mimosos bangalôs de Copacabana, Ipanema, Lê Blon, Urca, e
aqueles belos sobrados, aqueles prédios distintos dali e os compare, por
processo memórico, aos bangalôs, sobrados, prédios de Ilhéus.
Diga que grande diferença encontra
entre uns e outros.
A bem da dignidade e em desafronta dos
brios da nossa terra, é preciso escardinchar, com veemência e decisão, a
incongruência franchinótica do Sr. Jorge Amado, para que ele tome juízo e
educação.
Outro ponto muito interessante da
algaravia desse arestéiro é este:
“A imprensa é o “Diário da Tarde”, dos
outros jornais não vale a pena falar".
O “Diário” conta com o talento grande
de Otávio Moura. E, em todo Ilhéus, ainda existem umas três pessoas de talento
ou talvez duas...
Não há dúvida: Na hipótese de só haver
duas pessoas de talento, em Ilhéus, a primeira é Jorge Amado e a segunda, Jorge
Amado. E, na primeira hipótese, a terceira é o Sr. Otávio Moura.
Alias nos aqui pensávamos que o talento
grande do “Diário da Tarde” fosse o Sr. Carlos Monteiro, ou o Dr. Eusínio
Lavigne.
Mas o critiqueiro nos mostrou o
contrário, embora não deixemos de reconhecer nesse esforçado rapaz noticiarista
do outro órgão, algum talento.
Em verdade, para o Sr. Jorge Amado só
existe, em Ilhéus, o “Diário da Tarde”.
Pode ser que somente a condimentação,
a indumentária do mesmo, lhe satisfaça o fino paladar.
Que se há de fazer? Não é possível
agradar-se a todos. Essa questão de gosto é coisa muito séria e controvertida.
Fique, porém, o Sr. Jorge com o seu “Diário da
Tarde”, que nos aqui permaneceremos sem relegar a nossa profissão, ou fechar as
portas, só porque não houvéssemos encontrado alguém que não nos reconhece valia
ou importância qualquer.
Isso, todavia, é sinal dos tempos.
O rapazinho estudante começou,
entretanto, muito mal a sua vida literária: investindo acerbamente,
mal-aventuradamente contra uma sociedade inteira, elegante, digna, realizadora,
e, por outro lado, exercendo a tática do elogio mutuo.
São, contudo, recursos dos nulos, dos
insensatos, dos incapazes, não há que ver...
Pesquisa feita por Alfredo Amorim da
Silveira.
Alfredo Amorim é ilheense nascido e criado nessas terras, membro do Instituto Histórico de Ilhéus e observador atento das ruas da cidade.
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