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domingo, 12 de maio de 2013

Morte Encomendada – por KAROLINE VITAL


Fui acordada com os seus gritos enquanto ela era arrastada pelo beco. Eram gritos histéricos, desesperados, de quem sabia que seu destino não seria nada agradável. Depois de ouvir as súplicas por piedade não consegui mais pregar os olhos. Revirei-me na cama pensando no que ela estaria sentindo naquele momento, com os pés amarrados, carregada de qualquer jeito pelos seus membros superiores, enquanto, assustada, observava o ambiente estranho ao seu redor sem entender direito o porquê de estar ali. 


Ouvi o ruído dos seus pés arranhando o balcão inox, mais alguns gritos e depois só o silêncio. “Ela morreu agora”, pensei. E a angústia cresceu ainda mais, pois eu sabia que teria que encarar o corpo sem vida. Ainda no meu quarto, não sabia o cenário que iria encontrar. Será que havia sangue espalhado pelo chão? Será que ela sofreu muito, enquanto sua vida se esvaía pelo corte em seu pescoço? Foi terrível imaginar isso. Mas eu tive que tomar coragem e deixar o conforto da minha cama, que já não estava tão confortável assim por causa da consciência pesada. 

Abri a porta do quarto meio vacilante, caminhei em direção ao quintal, local onde o assassinato foi cometido. O corpo dela não estava mais lá, o que me aliviou. 

- Ouvi a gritaria – falei para a carrasca. 

- Ah, nem fez tanto barulho assim – respondeu com a frieza de quem já havia matado dezenas. 

- Cadê ela? – perguntei. 

- Já está na geladeira. 

- Jogou a cabeça fora?

- Joguei! Está dentro do balde de lixo. Quer olhar? – disse a algoz, em tom de deboche, com um sorriso de canto de boca. 

Apesar do mal estar que a cena me causou, bateu uma curiosidade mórbida e ainda cheguei a erguer um pouco a tampa do balde de lixo, porém só avistei parte de suas vestes. 

- Pô, mãe, da próxima vez compra frango congelado. Esse negócio de matar a galinha em casa é medieval. 

- Foi você quem disse que estava com vontade de comer ensopado de galinha. 

Eu sabia que para conseguir o que eu queria teria que haver morte, mas eu não precisava acompanhar parte do processo sinistro. Um dia, eu tomo vergonha e viro vegetariana.













Karoline Vital é jornalista. Assessora de Comunicação do Teatro Popular de Ilhéus

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