Revolta, sensação de impotência.
Lágrimas me vêm aos olhos. Vou deixar de assistir jornal, já disse isso antes
mas dessa vez, falo pra valer.
Nada muda. É gente sendo tratado como
animais, ignorados em filas de postos de saúde e amontoados nos
corredores das emergências por todo o país. Crianças morrem esperando um
transplante na fila de um hospital que chamam de “referência”. Sacanas
inescrupulosos, irresponsáveis-pinguços, assassinos safados e cínicos ante a
esperada impunidade que uma lei disfarçada de enérgica, vigorosa e severa que
desmancha-se nos primeiros momentos de sua esperada aplicação.
São benefícios em cima de benefícios,
que contemplam e premiam o criminoso e punem com o sarcasmo e
descaramento da certeza do infrator, sabedor de que não ia dar em
nada , a vítima – quando esta ainda teve a sorte de sobreviver para
ver o deboche de seu algoz ; ou de seus familiares, que terão que conviver com
a dor de uma perda permanente, sem direito a “progressão de pena” nem “habeas
corpus” que os liberte do sofrimento.
É o “governo do desgoverno,
desgovernado, incoerente e perdido” prometendo casas para desabrigados nas
enchentes e desmoronamentos de três anos atrás ou mais
, e suas “moradias” inacabadas, verbas desviadas e, aquelas poucas
concluídas, desmoronando como papel molhado ao primeiro contato com as chuvas
desse ano. Enquanto isso, bilhões estão sendo gastos com a construção de
estádios de futebol (gol para o “governo”!!!) para a realização de uma “Copa”,
vitrine da imbecilidade de um mundo irreal e distorcido, onde uma parcela
ínfima nutre-se de vultosas quantias de salários astronômicos e são negociados
como objetos de arte; quando a verdadeira arte e seus artistas, se
perdem pelos cantos desse país rico em cultura e homens cultos, desrespeitados,
ignorados e relegados à obscuridade e até à miséria e fome.
“Tô” cansando, sabia? Acho até que
estou sendo chato e repetitivo. Tenho vontade de gritar, mandar tudo “pra
aquele lugar” e tantos outros impublicáveis, cujos nomes pretendo poupá-los de
ouvir/ler mas que gostaria, sinceramente que encontrassem eco em cada coração
que bate de verdade, inquieto diante de todas essas incorreções e aberrações
éticas-políticas-sociais.
Gostaria de ligar a zorra da televisão e, mesmo
sabendo que não ia ter “notícia boa” pra ouvir, pelo menos pudesse ver que
aquele safado que bebeu, atropelou, matou ou mutilou alguém, foi preso e continua preso, sem
fiança e vai passar um bom tempo engaiolado. Que ao menos pudesse ouvir que,
apesar da construção de um inútil e dispensável estádio de futebol, pois a
“fome de bola” não mata “a fome de comida e de cultura” (“você tem fome de
quê?” – Titãs), foram construídos hospitais, escolas e casas “de verdade” para
dar dignidade ao povo.
Ah, e como gostaria de ouvir que,
apesar de termos, mais uma vez, escolhido errado e elegido um salafrário
corrupto, desrespeitoso e cínico, a justiça apurou, comprovou, cassou e prendeu
o sacana e agora ele está num presídio, numa cela junto com presos comuns – a
maioria não tem nem segundo grau completo mas são pós-graduados na arte das
falcatruas e safadezas; “batendo um baba” no time do goleiro assassino do
“atacante-escudeiro” Miojo. Enfim, que a lei que condena assassinos,
estupradores, psicopatas, maníacos e afins, servisse para de fato e
efetivamente, segregar essa corja e mantê-los confinados, de verdade e por
muiiiiiiito tempo, protegendo-nos e assim servindo ao verdadeiro propósito a
que se destina. Já que não existe pena de morte pra bandido – pra o homem de bem,
cidadão e vítima da violência, tem! – que pelo menos se fizesse cumprir a pena
a que de fato fora condenado. Não podemos negar que se trata de uma piada de
imenso mau-gosto, ver um assassino frio e cruel ser condenado a vinte anos e só
cumprir seis!!! Sem dúvidas é uma piada, uma piada que quem ri é o condenado
enquanto a sociedade chora vendo o triunfo da impunidade.
Basta! Já desabafei. Desculpem-me. A
coluna é sobre reggae, não é mesmo? Pois é, o reggae ainda é um instrumento
profético , de divulgação, denúncia e questionamento. O reggueiro é uma voz de
levante; não se pode deixar calar. Sua música é sua arma, sua voz seu canhão,
suas letras o manifesto da liberdade. É por isso que o reggae sobrevive, se
fortalece, renasce e renova-se. Reggae é a expressão da vida através de poucos
acordes e harmonias simples. O reggae é simples como a vida. A vida é simples,
nós que complicamos. O reggae é simples sem ser fútil ou superficial. A
simplicidade do reggae tem a profundidade e o conteúdo da vida. O reggae é poesia
e poesia é vida.
Pra encerrar, vamos curtir um som
especial: MIDINITE . “Reggae de Reponsa” . Midnite é uma banda
de reggae originária da ilha de St. Croix , Ilhas Virgens Americanas. As
composições da banda são caracterizadas pelo estilo "chant and call",
que dá a sua música um intenso sentimento Rasta; são geralmente
focadas nos males da opressão, nas falhas inerentes dos ajustes políticos,
econômicos e sociais numa escala global.
A banda foi fundada em 1989 pelos
irmãos Vaughn (vocal) e Ron (contrabaixo) Benjamin. Gravaram Ras Mek Peace
(Before Reverb and Without Delay), nomeado assim por ter sido gravado ao vivo
com apenas dois microfones, num quarto em Washington, por volta dos anos
1990.(Fonte: Wikipédia)
Um feliz fim de semana para todos. JAH
bless. Consciência e reggae, sempre.
Luciano “Pipo” Cerqueira é advogado, músico, compositor, guitarrista e vocalista da Banda Jah Bless.
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