A culpa, quem sabe, seja
desse meu gosto por emoções.
Ok.
Então estou no terminal,
me desviando dos estudantes, vendedores, funcionários das empresas de ônibus e
donas de casa com suas sacolas de supermercado na mão. Todos têm também a sua
pressa. Anseiam por chegar em casa ou em qualquer outro lugar. A terra gira, a
gente não pode deixar de se mexer. A tal engrenagem da vida. O caso é que, no
meio de toda essa Babel, descubro, sentado num banco de cimento lá no canto,
uma figura destoante, desencaixada e esquecida com o seu cigarro entre os
dedos.
Quarenta minutos
depois, sinto-me um vencedor, pois cheguei a tempo, paguei a conta antes do
banco fechar (a depender do dia, a gente se convence com tão pouco).
Volto pra casa apressado,
esquecido daquele brilho de vida que me surgiu no terminal: a feliz e venturosa
estória dum caubói grapiúna com suas botas e um cigarro de palha na mão.
Mas a mente é fértil, o
subconsciente é também uma ilha de edição. Dias depois, lembro-me dele,
encolhido naquele banco, talvez um outsider às avessas, um sábio andarilho e
benfeitor que fez do mundo sua casa (uma espécie de Keith “Kung Fu” Carradine
regional). Tudo é possível. Imagino-o então na porta de sua casa, a cadeira de
balanço, a árvore na frente, um cachorro com sarna a assustar as galinhas no
quintal. Não há pressa. Nem contas pra pagar. Somente o barulho do rio, perto.
E as botas, recém lavadas, postas em cima de uma pedra pra secar.
Rodrigo Melo é filho de Eduardo e Márcia, irmão de Juliano e Murilo, casado com Thalita, pai de Amaralina, uma menina linda, e é também brodão de Diná e Brooks, que joga umas danças por aí. Além disso, escreve uma coluna, blablablá, no Diário de Ilhéus, quase todos os sábados.
Um comentário:
Sou fã dessa cara.
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